Parte I: Informações Contextuais e Documentais que modificam os relatos já conhecidos
D) Os Hilsdorf-Hümmel -contexto da questão da Imigração
E) Os Hümmel-Hilsdorf PIONEIROS de IBICABA
F) Os PIONEIROS depois de IBICABA
A) APRESENTAÇÃO
Esta pesquisa começou com um levantamento compilado por Maria José Hilsdorf (LEME – SP), filha de Waldomiro Hilsdorf e Maria Rosa Lustri Hilsdorf, baseada em relatos e documentos familiares, depois ordenado em computador por Jorge Wilson Hilsdorf (SP-SP), filho de José Hummel Hilsdorf e Olga Fadul Hilsdorf, e retomado por mim, Maria Lúcia Spedo Hilsdorf (SP-SP), filha de Mário Hilsdorf e Nair Spedo Hilsdorf. Waldomiro, José e Mário são irmãos, filhos de Jorge Hilsdorf e Cristina Hummel Hilsdorf, o casal que foi o nosso ponto de partida pela condição de avós paternos em comum.
A minha participação nesse levantamento consistiu em rever, corrigir e acrescentar dados derivados de pesquisa documental original e de preciosas contribuições fornecidas pelos pesquisadores Bruno Witzel-Souza e Luiz Augusto Schmidt Totti, também nossos parentes, com os quais partilho ancestrais comuns. Enfrentei o desafio com 2 propósitos: trazer informações sobre nossos antepassados que precederam o casal Hümmel-Hilsdorf citado e tentar confirmar versões familiares que diziam que eles emigraram para cá nos meados do século XIX, contratados para trabalhar como colonos de parceria na famosa Fazenda Ibicaba, em Limeira, e depois se mudaram para as cidades da redondeza, realizando atividades urbanas.
Os Hilsdorf e os Hümmel na Alemanha
Em Bingen am Rhin [Bingen do Reno], na região Hessen am Rhin [Hessen do Reno], na Alemanha, além da monja Hildegarde von Bingen, musicista, intelectual e mística da Idade Media, são famosos os pioneiros da fotografia alemã da segunda metade do século XIX: João Batista Hilsdorf (*6-5-1835 e +11-7-1918) e seus filhos Theodoro (*18-6-1868 e +1944) e Jacob (*10-6-1872 e +1916, por suicídio durante a IGG). Estão no Google, é só digitar… Além de fotos de lugares, paisagens e personalidades do mundo social e cultural de língua alemã do período que eles fizeram, esse arquivo digital apresenta retratos familiares: um deles, tirado pelo pai João Batista Hilsdorf, mostra as crianças Jacob, Frieda e Hans. Parece que este irmão Hans também foi fotógrafo. Theodoro trabalhou no atelier do padrasto, o fotógrafo Friedrich Müeller, de quem assumiu o estúdio em 1903. O pai João Batista é da mesma geração dos nossos antepassados emigrantes: será que ele não quis emigrar também? E, sobretudo, seriam nossos parentes?
Abaixo produções dos fotógrafos citados:
Fotografia de 1908 de Theodoro Hilsdorf, de autoria do irmão Jacob Hilsdorf (Fonte: da internet)
Cartão-postal com foto dos arredores de Bingen, do fotógrafo João Batista Hilsdorf, pai de Jacob e Theodoro (Fonte: da internet)
Mas também podem ser localizadas outras figuras com esse sobrenome, como os irmãos Valentim e Conrado Hilsdorf: este Conrado (*1834 ou 1835) aparece casado primeiramente com Suzana Eva Horning (e pais de Catharina Hilsdorf) e depois com Catharina Baehr. Tem um Conrado Hilsdorf (?-?) casado em Mainz, Rheinhessen (Hessen-Darmstadt) em 23-4-1857 na Igreja católica de São Pedro, com Catharina Baehr (nascida em Gersenheim ou Geisenheim), de 34 anos. JUNTANDO as 2 informações temos provavelmente um Conrado Hilsdorf (*1834/5 – ?) [que tem um irmão Valentim Hilsdorf], casado primeiramente com Suzana Eva Horning (e pais de Catharina Hilsdorf) e depois em 23-4-1857 na Igreja de São Pedro em Mainz, na ocasião região Rheinhessen (ou Hessen-Darmstadt), com Catharina Baehr (nascida em Gersenheim ou Geisenheim, c. 1823), de 34 anos. Podemos dizer que estamos falando das mesmas pessoas, sobre as quais conhecemos alguma coisa… Mas eles seriam parentes dos famosos fotógrafos? E novamente: teriam relações de parentesco conosco?
Há também muitos Hilsdorf que emigraram para os EEUU, em meados do XIX. Um exemplo é o Conrado Hilsdorf nascido em 22-11-1834, em Gauhein (este nome pode não estar correto, o certo seria Gausheim), também na região do Hessen-Darmstadt, que foi para os EEUU em 1860, vivendo com seus descendentes em Nova York, onde faleceu em 1925. Seria o mesmo Conrado acima? Trata-se de parente ou não?
Esses Hilsdorf de Bingen, de Mainz, de Gausheim, em suma, das regiões banhadas pelo Reno podem ser ou não nossos parentes, talvez o sobrenome Hilsdorf fosse bastante comum à época… Argumentos do parentesco: prevalência do nome Martinho na família (católica) Hilsdorf que veio ao Brasil, sendo que São Martinho era padroeiro de várias cidades da região do Pfalz; as já citadas localidades de Bingen [da família de fotógrafos], Worms, e Mainz ou Mayence que circulavam na nossa família como pontos de referência familiares na Alemanha; e, enfim, a pequena vila de Wolfsheim, na mesma região, apontada pelos familiares (meu pai Mário entre eles), como a vila de origem da família. Isso tudo significa que, de alguma maneira, são contemporâneos dos nossos antepassados Hilsdorf que vieram ao Brasil em 1847 e seria importante saber mais sobre a família na Alemanha (iniciativa que, no momento, ultrapassa nossas possibilidades).
Coordenadas Geográficas
Localização de vilas e cidades importantes para nós, citadas no texto:
Na Suíça, Untervaz fica no cantão de Grisões, e Newdorf no cantão de Lucerna.
Na Alemanha, no território à esquerda do Reno, na atual região do Reno-Palatinado (Rhein-Pfalz) mais ou menos correspondente ao que era no século XIX, no distrito de Alzey-Worms, perto das cidades do mesmo nome, ficam os municípios/antigas vilas de: Wallertheim, Udenheim, Saulheim, Armsheim, Vendersheim, Alsheim, Gundersheim, Partenheim e Wolfsheim:
São localidades vizinhas e até muito próximas umas das outras, com ao redor de 5 Km ou ainda menos ainda de distância entre elas. Outra página da internet (DB.city.com), no entanto, dá uma posição diferente: Wolfsheim como pertencente à mesma região do Reno-Palatinado (Rhein-Pfalz), mas no distrito de Mainz-Bingen, e vizinha de Vendersheim, Ober-Hilbersheim, Partenheim e Gau-Weinheim.
Dá também as distâncias entre Wolfsheim e Partenheim (3,5 km) e entre Wolfsheim e Wallertheim (4,5 km), percorridas de automóvel em minutos. Também na região do Reno-Palatinado (Rhein-Pfalz), mas no distrito de Bitburg-Prüm, mais para o lado de Luxemburgo, fica o município/antiga vila de Rodershausen, que depois do Congresso de Viena em 1815 ficou pertencente à Prússia e representava a parte mais ao sul deste reino; hoje em dia integra a região renana, e tem ainda muitos problemas de desenvolvimento econômico e sociocultural.
Já no território vizinho, fronteiro, mas do lado direito do Reno, ou seja, na região do Hesse (Hessen ou Hessen-Darmstadt) no distrito de Bergstrasse, perto da cidade de Darmstadt, fica o município/antiga vila de Biblis, origem das famílias Hümmel e Hebling.
A região de Maecklembourgo (Mäcklenbourg), também citada, faz fronteira na sua parte oeste com a região do Holstein, as duas bem ao norte da Alemanha. O Holstein (hoje Schleswig-Holstein), por sua vez território vizinho da Dinamarca, e nesse tempo sob o domínio desta, era conhecido por suas cidades independentes de Lübeck e Kiel, poderosos centros comerciais do Mar do Norte.
Então temos abaixo, mapas e esquemas da Alemanha que focalizam vilas e regiões citadas na pesquisa. Começamos com o Pfalz, hoje Renânia-Palatinado:
O Pfalz em vermelho em relação aos outros estados do território da Alemanha
Abaixo, em vermelho, Wolfsheim, município no distrito de Mainz-Bingen em cinza, limitado pelo rio Reno, em azul, distrito por sua vez pertencente ao estado atual do Pfalz [Renânia–Palatinado], o espaço cinza maior indicado no box:
A seguir, esquema com a localização de Wolfsheim, perto de Bingen, Mainz e Worms (como meu pai dizia), na região do Reno-Palatinado, na margem esquerda/ocidental do rio Reno = traço grosso em azul. No meio-círculo de bolinhas verdes está Wolfsheim (última à direita). Worms está embaixo, Bingen acima defronte a Rudesheim, e Mainz está no meio, defronte de Wiesbaden, que pertencem à região do Hesse, na margem direita/oriental do Reno. No Hesse, mais ou menos defronte a Worms, fica também a cidade de Biblis, terra dos Hümmel e dos Hebling. Para ajudar a entender a localização de Biblis no Hesse, que não aparece no mapa abaixo, mas está à direta do Rio Reno: Biblis fica a cerca de 8 km e 100 m de Gersheim e a 9 km e 600 m de Worms:
Deste lado do Reno, a região do Pfalz [Renânia-Palatinado em português]. Deste outro lado do Reno a região do Hessen-Darmstadt [Hesse].
Abaixo, localização de Wolfsheim em branco no centro do mapa, e as vilas vizinhas, na versão do Google Maps:
Abaixo, localização de vários distritos [Kreis] atuais na região do Pfalz, à esquerda e à direita do Reno (em azul):
Abaixo, Biblis, na região do Hesse, pelo Google Maps:
B) Versão resumida da genealogia dos Hilsdorf no Brasil com dados familiares:
O levantamento que recebi dizia o seguinte sobre o casal de antepassados que deu origem à família Hilsdorf no Brasil:
I – MARTINHO [MARTIN] HILSDORF, casado com MARIA ? HILSDORF na Alemanha. Tiveram dois filhos na Alemanha: JOÃO CONRADO e JORGE.
I.1.- JOÃO CONRADO HILSDORF, nascido na Alemanha e falecido em Leme, SP. Teve o Sítio do Sobrado em Rio Claro, SP. Casado na Alemanha em primeiras núpcias com ANNA ?. Tiveram 4 filhos sendo: MARTA HILSDORF, GERTRUDES HILSDORF e KLAUS HILSDORF, nascidos na Alemanha; e MARTINHO HILSDORF, nascido em RCL e casado com Sophia Hilsdorf Hebling, sua prima. JCH casado em RCL em segundas núpcias com MARGARIDA FREY. Tiveram 10 filhos sendo: MARIA HILSDORF casada com Bento Vollet; SOPHIA HILSDORF solteira; HELENA HILSDORF solteira; VALENTIM HILSDORF solteiro; JOAQUIM HILSDORF solteiro; ANNA HILSDORF casada com Mário Galvão; MARGARIDA HILSDORF casada com José Gomes Gerais; ELIZA HILSDORF casada com João Dhom; JORGE HILSDORF casado com Christina Hummel (filha de Martinho Hummel e Maria Magdalena Wolf), avós de M. José, J.Wilson e M. Lúcia; e JOÃO HILSDORF casado com Maria Augusta Brochado Penteado.
I.2.- JORGE HILSDORF, o “Jorginho Ferrador”, nascido na Alemanha e falecido em Rio Claro, SP. Casado com MARIA BAUMGARTNER. Tiveram 7 filhos sendo: BÁRBARA HILSDORF casada com Francisco José Soares; JOÃO HILSDORF casado com ??; JOSÉ HILSDORF casado com Margarida Vollet; MARTINHO HILSDORF casado com Narcisa Maia; JORGE HILSDORF FILHO casado com ??; FELIPE HILSDORF casado com Elisa???; MARIA MAGDALENA HILSDORF casada com Martinho Fischer [ou solteira, segundo outra versão].
Além desses dados genealógicos, o levantamento também trazia informações de cunho histórico, fornecidas por Celso Vollet Hilsdorf, um neto do casal acima Jorge Hilsdorf e Maria Baungartner, o qual procurou contribuir com informações mais detalhadas e contextualizadas sobre a vinda da família no Brasil. Segundo sua versão, nossa historia teria se iniciado pelos idos de 1852, quando dois filhos de MARTINHO HILSDORF e MARIA HILSDORF (nossos tataravós), originários da Alemanha (para alguns familiares) ou da Austria (segundo Celso Vollet Hilsdorf), vieram para o Brasil. Segundo Celso, naquela época, na Austria, muitos nobres como condes, duques etc., foram assassinados, e entre eles quase todos da família HILSDORF. Quando JORGE HILSDORF nasceu (1839), sua mãe Maria Hilsdorf foi morta quando ainda estava no hospital. O irmão mais velho de Jorge, JOÃO CONRADO HILSDORF (nosso bisavô), ajudado pelo pessoal da Faculdade de Veterinária de Brusque (na Austria) passou para a Itália e com a esposa ANNA e duas filhas, Marta e Gertrudes, deixando adoentado o pequeno Klaus também filho do casal, tomou um navio e emigrou para o Brasil. Mais tarde, ainda meninote, JORGE HILSDORF veio encontrar-se com o irmão, deixando por lá bens, títulos de nobreza, que tinham antes da revolução do povo contra os nobres (1848) para fazer do Brasil sua segunda pátria. Aqui se casou e constituiu família, falecendo em Rio Claro, com 82 anos de idade no dia 28-3-1921. Tanto ele como o irmão aportaram em Santos, logo rumando para o interior do Estado de São Paulo, indo primeiro para Limeira (onde ficava a colônia Ibicaba) e depois para Rio Claro, onde aplicaram seus recursos em terras. Mais tarde, JORGE HILSDORF, mudando de idéia, voltou para a cidade. Lá aprendeu e especializou-se em conhecimentos de veterinário prático, porém, logo mudou e montou uma ferraria (daí o apelido que tinha de “Jorginho Ferrador”). Há em Rio Claro um Cemitério Alemão criado pelo pastor Bohm em 1863, mostrando a importância dessa imigração para a cidade.
JOÃO CONRADO HILSDORF (JCH) por sua vez, nasceu em Wolfsheim, Alemanha (1831). Assim que, com sua esposa ANNA, chegou a Rio Claro, nasceu o quarto filho, MARTINHO HILSDORF. JCH aqui prosperou, comprando terras até chegar à Fazenda do Sobrado, em Rio Claro, onde seus descendentes permaneceram até mais ou menos 1950. Dela atualmente, só resta uma Capela onde foi sepultada a esposa ANNA, que morreu durante a epidemia do final do século passado. JCH casou-se, a seguir, com MARGARIDA FREY (nossa bisavó) e tiveram 10 filhos. Continuando seu relato, Celso diz que quando o penúltimo filho de João Conrado e Margarida JORGE HILSDORF se casou com CHRISTINA HUMMEL em 1888, saíram de Rio Claro e foram residir na Vila dos Leme (ou Estação dos Leme), sendo que alguns anos mais tarde os próprios pais dele, JCH e Margarida, vieram para Leme onde, em 6-1-1897, JCH faleceu com 66 anos de idade (conf. Certidão de Óbito no. 365, fls. 181 do Livro no. C-01, Cartório Civil de Leme) e lá foi sepultado. Sua esposa, Margarida Fray voltou para Rio Claro, onde faleceu mais tarde e foi sepultada atrás da Capela da Fazenda do Sobrado. Entre 1898 e 1911, aproximadamente, foi inaugurado novo Cemitério em Leme, mais distante do centro da cidade e o prefeito solicitou aos familiares que transferissem os restos mortais de seus entes queridos para desativar completamente o Cemitério anterior, que, além de estar próximo ao Centro, já estava lotado devido às epidemias da época. Os ossos de JCH foram então transportados para junto da esposa Margarida Fray, já sepultada atrás da Capela da Fazenda do Sobrado, em Rio Claro.
Leme tinha esse nome porque foi construída uma estação de madeira nas terras da Fazenda Palmeiras, da família Leme (Manuel Leme). Em 1o. de Maio de 1875 a Cia. Paulista de Estradas de Ferro contratou com o Governo do Estado a construção do ramal Cordeirópolis a Porto Ferreira. Em 18-2-1876 foi fundada a Cia. Paulista de Estrada de Ferro do Oeste, ligando Cordeirópolis a Descalvado. Foi então construída na Fazenda uma estação de madeira que foi substituída pela atual estação da estrada de ferro em 1916. A primeira estação foi inaugurada em 30-9-1877. Em 5-2-1891 foi criado o Primeiro Cartório de Paz de Leme onde foram registrados o primeiro óbito (de Francisco de Lima, em 6-2-1891) e o primeiro nascimento (em 11-2-1891). Entre 1889 e 1890 nosso avô JORGE HILSDORF, filho de JCH, com c. 30 anos de idade e recém-casado, foi proprietário de uma padaria em Leme, e participou da vida pública da vila, exercendo várias funções, tais como, mesário em eleições, mesário na Câmara Municipal e Juiz de Paz. Em 26-11-1899 foi criado o primeiro distrito policial da Estação dos Leme (subordinado ao Município de Pirassununga) e um parente, JOÃO DHOM, casado com ELIZA HILSDORF, irmã de Jorge e filha de JCH, foi nomeado subdelegado de Leme. Em 29-8-1895 Leme passou à categoria de Município e um ano após desmembrou-se de Pirassununga, passando para à jurisdição da comarca de Araras (6-8-1896). Na primeira eleição, em 24-10-1895, várias pessoas participaram como mesários, tendo sido eleito para o cargo de Juiz de Paz, com 35 votos, o cidadão JORGE HILSDORF, casado com CHRISTINA HUMMEL (nossos avós). A vila de Leme na época de sua emancipação contava com 1260 casas e uma população de 4500 almas, sendo 3700 na zona rural e 800 na zona urbana. Atualmente Leme conta com uma Vila Hilsdorf, que foi criada pela prefeitura nas antigas terras da chácara de Jorge e Cristina Hilsdorf, e duas ruas que homenageiam a família: a rua Jorge Hilsdorf e a rua Martinho Hilsdorf.
Celso termina dizendo que no ano de 1897 os imigrantes que mais frequentavam as igrejas católicas em Leme eram os das colônias italianas e também alguns alemães, vindos agora na sua maioria da Pomerânia, e que formaram colônias como a atual “Ribeirão do Meio”, mas sem ligações com as anteriores.
O levantamento datilografado seguia com a localização e apresentação de dados genealógicos acerca do filho de JCH Jorge Hilsdorf e sua esposa Christina Hümmel e a larga descendência dos seus 13 filhos.
C) Questionando esses relatos
Avaliamos que essas versões orais e posteriormente escritas que circulam na família há anos representam tentativas de organização e contextualização das lembranças dos nossos antepassados. No caso específico do relato de Celso, o meu ponto de vista é que o que ele diz é bem perceptivo da situação no final do sec XIX e começo do XX, com foco na cidade de Leme, e tem a minha concordância nesse ponto, mas é omisso em relação ao aspecto da emigração de alemães e suíços para o Brasil nos meados do século XIX por causa da colonização de parceria, à qual, no entanto, a parte Hilsdorf-Hummel da família estaria originariamente integrada segundo conversas informais com meu pai e alguns tios. Apareceu então a urgência de investigar com maior apoio documental a história anterior dos Hilsdorf-Hümmel, no sentido de remontar àquela hipótese “Ibicaba” que circulava no boca a boca familiar há tantos anos, ou seja, teríamos que voltar aos relatos familiares que dão mais pistas para as ligações dos Hilsdorf-Hummel (e outros sobrenomes aparentados) com os alemães que nos meados do século XIX chegaram à “Fazenda Ibicaba”, em Limeira, de propriedade do Senador Vergueiro, para trabalhar como colonos do café em regime de parceria. Mais tarde, esses “colonos de Ibicaba” se espalharam pelas cidades da região como Rio Claro, Piracicaba, Leme, Pirassununga e outras, para desenvolver além do trabalho agrícola, atividades de serviços, comércio e produção artesanal, o que justificaria a nossa presença inteiramente urbana, na atualidade.
Além da questão da re-contextualização, outro aspecto também chama a atenção nas versões apresentadas acima: ambas trazem alguns dados e explicações inconsistentes, indicando a necessidade de novas pesquisas históricas e documentais para preenchimento das lacunas. Um pequeno mostruário das dificuldades encontradas no diálogo com esses relatos é exposto a seguir.
Por exemplo: é correto que JORGE HILSDORF se casou e constituiu família em Rio Claro, onde faleceu aos 82 anos de idade, mas uma leitura do seu AO muda a data divulgada deste último evento para o dia 27-3-1921.
Também está confirmado que seu irmão JOÃO CONRADO HILSDORF faleceu em Leme, em 6-1-1897, conforme Certidão de Óbito no. 365, fls. 181 do Livro no. C-01 do Cartório Civil de Leme. Mas a leitura integral desse documento oferece outras informações surpreendentes sobre esse nosso antepassado. O que está escrito no AO? O nome dele é apenas JOÃO HILSDORF, sem o Conrado, como vem sendo divulgado. Sexo: masc. Cor: ignorada. Casado com Margarida Hilsdorf. Tinha 66 anos de idade. Natural da Alemanha. Residente: em Leme. Pais: Martinho Hilsdorf e Maria Hilsdorf. Data da morte: 6-1-1897, 8 hs. Causa: ataque apoplético. Sepultura: Cemitério. Atestou o óbito: Dr. Cherubino Soeiro. Declarante: Henrique Waldvogel Filho. Isso signfica que foram amigos ou vizinhos que fizeram a declaração de morte no cartório, e não seus familiares, daí talvez as informações vagas que foram relatadas. Leme passara a munícipio em 1895 sendo os primeiros prefeito e vice-prefeito respectivamente Dr Cherubino e Henrique Waldvogel (presumo que pai do declarante Henrique Waldvogel Filho, senão o próprio!), o que pode indicar, por outro lado, bom relacionamento e posição social de João Hilsdorf na cidade.
Quanto aos detalhes do nascimento, encontramos a informação completa em outra fonte: trata-se da localidade de Wolfsheim, na Alemanha, no dia 12-8-1831. Sabemos que é esse lugar e essa data porque constam da primitiva placa do túmulo de João Hilsdorf em Leme, a qual foi levada para a capela do “Sítio do Sobrado”, nas vizinhanças de Rio Claro, quando do traslado da ossada, conforme relato do que foi visto pelo neto dele, Mário Hilsdorf, em visita ao Sítio, nos anos 1980: a placa metálica estava abandonada no chão, e continha os dizeres “João Hilsdorf, nascido em Wolfsheim na Alemanha em 12/8/1831 e falecido em Leme, SP em 6/1/1897”. Mais uma vez, nada de Conrado no nome!
Outra questão interessante relativa a JOÃO HILSDORF está ligada aos seus dois casamentos. O relato mais tradicional apresentado acima, diz que assim que chegou a Rio Claro com sua esposa ANNA, nasceu o quarto filho do casal, MARTINHO HILSDORF. Segundo Celso, isso se deu no ano de 1852. Primeiramente, já sabemos que é pouco provável que João tenha ido diretamente da Alemanha para a cidade de Rio Claro, pois, confirmamos que Martinho de fato nasceu em Limeira, o que indica que João deve ter chegado antes de 1852 na colônia de Ibicaba, na companhia do seu pai, Martin Hilsdorf, que está na lista dos colonos alemães vindos em 1846/47, acompanhado da esposa e 6 crianças, João sendo uma delas, pois teria c. de 15 ou 16 anos. Por seu lado, o pesquisador Argolo Ferrão da Unicamp diz que um grupo de colonos de Ibicaba dessa leva de 1846/47 saiu justamente da colônia em 1852, indo para as cidades de Limeira, Rio Claro e Piracicaba, entre outros destinos. Pode ser que seja isso o que aconteceu com João: ele acompanhou pais e irmãos quando da vinda para Ibicaba em 1846/47 e também quando hipoteticamente migraram da colônia para RCL em 1852.
Pela via documental, portanto, nenhuma alusão a uma primeira esposa. Mas um simples raciocínio também promove esse questionamento. Costumam dizer que em algum momento após a morte de sua primeira esposa Anna, JCH se casou com Margarida Frey, com quem teve 10 filhos. A ordem dos nascimentos aceita pela família indica Jorge (o pai do vô Mário), como 9º. filho do casal, nascido em RCl em 1859. Celso, por sua vez, relata que Anna morreu no final do século XIX, durante uma das epidemias da época. As duas informações não batem: se o nono filho de João e Margarida já nasceu em meados do século XIX, como sua primeira esposa Anna pode ter morrido no final do século? Outra coisa: nesse ano de 1859 João teria c. de 28 anos e já seria pai de 13 filhos, somando os 4 anteriores da primeira mulher Ana, e os 9 que teve com a segunda esposa Margarida, segundo as versões conhecidas… As datas não fazem sentido, ou os relatos.
Outras lacunas dizem respeito à propriedade que JCH teve perto de RCL, referida familiarmente como “o Sítio do Sobrado”, onde plantava açúcar e café. Pesquisadores da UNESP-RC estudaram essa propriedade, que foi vendida a vários compradores após a morte do antigo dono, o Barão de Grão-Mogol. Nosso bisavô João pode ter sido um deles. A historiadora Flávia M. Gouvêa (2011) por sua vez, fala que um grupo de 16 ex-imigrantes alemães adquiriu em c. 1880 as terras da antiga “Fazenda Angélica”, espólio dos Vergueiro, também donos da “Fazenda Ibicaba”. Dentre os compradores, cita explicitamente um de sobrenome Helsdorf, que reconhecemos como João Hilsdorf. Outras fontes dizem que além do “Sítio do Sobrado”, este teve terras na região do Ribeirão Cabeças ou das Cabeças. Estamos falando da mesma propriedade, apenas nomeada de outra maneira ou são coisas diferentes?? Atualmente, temos algumas respostas parciais sobre essa questão: já sabemos que os empreendimentos da família Vergueiro foram à falência c. 1871 e passaram à posse do London and Brazilian Banck. Ao que tudo indica, um deles, a “Fazenda Angélica”, nas proximidades de Rio Claro, foi vendido já desfalcado de algumas terras ao Barão de Grão-Mogol, c. de 1881, o qual ai construiu uma nova sede para sua moradia, o famoso sobrado que tornou a propriedade conhecida por esse nome. Nele residiram o barão e seus descendentes até 1923, quando a fazenda foi novamente vendida aos Rossi, uma família de imigrantes italianos que detém a sua posse até hoje. Pelo artigo que forneceu esses dados (Benincassa, 2020), ficou esclarecido que eles compraram os lotes onde ficavam as sedes das duas fazendas tradicionais: a da fazenda “Angélica”, erguida pelos Vergueiros; e a da fazenda “Vista Alegre” ou “do sobrado”, erguida pelo barão. Todo esse conjunto ficava na atual Ajapi, no distrito Mata Negra, à época chamado de Morro Grande, topônimos que podemos localizar no mapa abaixo. Depreendemos, então, que JCH poderia sim, ao redor de 1880, ter comprado terras (que tinham feito parte da antiga “Fazenda Angélica”), as quais eram designadas familiarmente como o “sítio do Sobrado”, mas se referiam, de fato, ao “sítio localizado na região do sobrado do barão”. Por outro lado, a ligação dos Hilsdorf com essa propriedade, ainda que sempre relembrada como importante, parece ter sido tardia, comparativamente à história da família na região, associada aos eventos de Ibicaba e datada dos meados do século XIX. Assim, permanece o questionamento: por onde andou JCH (e por extensão sua família) nos anos anteriores à década de 1880?
Mapa da zona rural de Rio Claro (Fonte: reproduzido de ).
Quando comecei a cruzar as histórias familiares para localizar, identificar e arranjar os seus membros numa estrutura de genealogia, percebi que diante de questões como as levantadas acima era urgente ir além do esquema familiar então conhecido, que compreende apenas a geração dos avós e seus descendentes, de maneira a incluir os bisavós e quem sabe, antepassados ainda mais remotos, o que demandou obter novos dados em pesquisas históricas documentais sobre os imigrantes de Ibicaba. Como diz o autor Bruno Witzel-Souza (comunicação privada, 2017), a história da família não é só da família, é parte de um todo maior. Falando de uma maneira mais direta, precisamos ir além daqueles relatos familiares apresentados acima, inclusive a contribuição de Celso, e enfrentar as suas incoerências montando uma nova versão contextualizada e documentada, pelo menos para a parte brasileira da história familiar, que começa nos meados do século XIX.
Para fazer isso recorri a obras já publicadas, em especial os textos escritos por Heflinger (2007, 2009, 2012 e 2014) e Witzel-Souza (2017). Usei também a internet, onde as informações são menos confiáveis, sendo necessário compará-las e colocar no contexto para conseguir alguma credibilidade dos dados: está neste caso o site gomessilva2.wixsite.com/imigraçaoalemasp/sobre…, que abreviarei para gomessilva2, o qual, apesar de focar matéria de extrema relevância, apresenta no entanto informações contraditórias que o tornam na prática uma fonte pouco usável. Ainda fiz levantamentos essenciais em arquivos e cartórios, conseguindo registros manuscritos não gratuitos dos meados do século XIX; e em material impresso da época, como almanaques e jornais. Faço um destaque aqui para o site familysearch.org, que permite o acesso digital gratuito aos registros paroquiais da Igreja Católica (batismos, casamentos e óbitos), do período em pauta. Apesar das falhas na digitalização dos originais, que agravam o estado lamentável de conservação dos livros no sentido de dificultar a leitura dos assentos, sem o recurso da pesquisa ao site familysearch nosso trabalho simplesmente não teria sido feito. Enfim, as genealogias que construí um tanto por comprovação, um tanto por dedução, e um tanto por imaginação ficam devendo também aos dados de acervos documentais alemães que generosamente me foram cedidos pelos pesquisadores Bruno Witzel-Souza e Luiz Augusto Schmidt Totti, com os quais também partilho a ancestralidade Hilsdorf-Hümmel.
D) OS HÜMMEL-HILSDORF NO CONTEXTO DA QUESTÃO DA IMIGRAÇÃO
Há, até o momento, mais estudos sobre a imigração alemã para as regiões do sul do Brasil do que para SP, o que dificulta o aparecimento de dados confiáveis e fontes organizadas para os colonos parceiros de Ibicaba, em Limeira – SP, que é o nosso grupo familiar originário, no Brasil (a situação deles na Alemanha é outro trabalho, ainda a ser necessariamente feito).
O que hoje (2020) pode ser dito a respeito da nossa situação familiar e histórica é EM RESUMO o seguinte: de fato, os Hilsdorf e os Hummel vieram para o Brasil contratados para trabalhar como colonos parceiros na colônia agrícola de parceria criada na Fazenda IBICABA, do Senador Vergueiro, em Limeira, SP. MAS NÂO SÓ ISSO. Eles vieram justamente na PRIMEIRA LEVA de imigrantes, composta de alemães das regiões da Renânia + da Baviera + do Holstein. Ou seja, fazendo explicitamente parte dessa leva formada na Alemanha em 1846 e chegada ao Brasil em 1847 estão os nomes de Martin Hüllsdorff [Hilsdorf], Martin Hümmel e Guilherme Hümmel, ao lado de outros imigrantes alemães de sobrenomes como Frey, Witzel, Gerhardt, Hellmeister, Fischer, Lebeis, e Vollet, alguns, nossos aparentados. SÂO, PORTANTO, INTEGRANTES DO PRIMEIRO GRUPO DE ALEMÃES VINDOS COMO PARCEIROS PARA A FAZENDA IBICABA, e serão tratados neste texto como PIONEIROS DE IBICABA. Para simplificar, usamos frequentemente a designação colônia de Ibicaba, mas o correto é dizer Colônia Senador Vergueiro ou Colônia do Senador Vergueiro, na Fazenda Ibicaba.
Como chegamos a essa condição?
O autor Heflinger lembra que o Senador Vergueiro já era um experimentado traficante de escravos (por isso em meados dos anos 1820 recusou dar apoio à política adotada por Pedro I e Dona Leopoldina de promoção à vinda de imigrantes europeus como pequenos proprietários, que resultou nas levas de 1827 e 1828 de alemães para as regiões paulistas de Santo Amaro e Itapecerica), quando em 1845, conseguiu ajuda financeira do governo da província de São Paulo para um projeto que retomava em novos moldes, as medidas dos anos vinte: certamente para compensar os seus prejuízos com as medidas de proibição do tráfico internacional de escravos que vinham sendo tomadas no período, se dispôs a trazer imigrantes europeus para trabalhar como colonos-parceiros em suas fazendas de cane e café. Vergueiro tinha feito uma tentativa anterior, no começo da década, com colonos portugueses, e de fato, Heflinger pesquisou em PT e achou 90 imigrantes oriundos de Viana do Castelo, na região do Vale do Minho, que vieram ao Brasil em 1842 (legal ou ilegalmente, ainda não se sabe, pois ele não achou documentação). Mas Vergueiro não deve ter apreciado os resultados com os portugueses, pois desta feita ele optou por trazer trabalhadores de outras regiões da Europa. Talvez influenciado por contatos familiars, já que ele e seus filhos tinham frequentado universidades alemãs, o Senador no ano seguinte, 1846, contratou por intermédio do agente recrutador Preller, em diferentes regiões da Alemanha, c. de 450 pessoas como colonos no regime de parceria para a sua propriedade IBICABA, fazenda situada na região de Limeira, SP [hoje, parte de Cordeirópolis, SP]. O livro que registra esses contratos foi aberto em 1º-8-1846. Esse documento foi localizado há poucos anos por Heflinger, e vamos falar dele mais adiante.
Lendo os textos de Heflinger percebe-se que esse recrutamento foi acontecendo lentamente: o conjunto de c. de 450 pessoas foi formado a partir de um núcleo inicial proveniente de uma região do sul da Alemanha conhecida em português como Renânia-Palatinado [Rheinland-Pfalz, ou abreviado, Pfalz], vizinha da região do Hesse [Hessen], mas separadas pelo rio Reno: Pfalz, margem esquerda e Hesse, margem direita. O grupo também recebeu alguns interessados da região da Baviera [Bayern]. O ponto de encontro deles todos foi a cidade de Mainz, capital do Pfalz, justamente um dos nomes citados frequentemente nos nossos relatos familiares, que localizam os Hilsdorf como oriundos da Renânia-Palatinado, mais particularmente da vila de Wolfsheim, entre as cidades de Mainz, Bingen e Worms, como já dissemos. Heflinger fala em detalhes de outro contratado em 1846, Jacob Scholl, cuja família era originária de Bubenheim, vilarejo entre Mainz e Worms, “vizinho” do Wolfsheim dos Hilsdorf, portanto. Os Witzel, segundo Bruno Witzel-Souza, vieram por sua vez de Saulheim e Udenheim, vilas separadas por c. de 3 km de distância (à pé), ambas no município atual de Alzey-Worms. Udenheim fica a c. de 18,4 km (a pé) de Algesheim, vila no atual município de Mainz-Bigen. Algesheim é terra natal dos Lebeis, outra família emigrada. Todas essas localidades, e mais Armsheim, Vendersheim e Wallertheim, são exemplos da proximidade das regiões de origem dos que emigraram.
Já os Hümmel, família que nomeia nosso outro ramo de origem também ligado aos eventos de Ibicaba, são associados familiarmente à localidade de Darmstadt, próxima à cidade de Wiesbaden, ambas na região do Hesse, ao passo que Mainz, Bingen e Worms são cidades da região do Palz. Hesse e Paflz são separados pelo rio Reno e essas localidades citadas ficam praticamente às suas margens, quase defrontes umas das outras. Isso, na atualidade (ver os mapas acima), por que, no século XIX, com os frequentes movimentos político-territoriais de uma Alemanha pré-unificada, talvez em c. 1846-47 Darmstadt e suas aldeias vizinhas estivessem de fato incluídas no Pfalz, ou melhor, o Pfalz abarcasse aldeias situadas além do Reno. Tudo isso pode ter levado pesquisadores como Heflinger e outros a nomear apenas Pfalz, Holstein e Baviera como as zonas de origem dos primeiros colonos vindos para Limeira, sem detalhar que havia também emigrantes saídos do Hesse, do outro lado do Reno, e isso é importante porque do pequeno lugarejo de Biblis, na vizinhança de Darmstadt, no Hesse, vieram os Hümmel e os Hebling, embora estes já na década seguinte de 1850.
Recentemente, encontrei a explicação de que a cidade de Mainz na margem esquerda do Reno tinha bairros que ficavam na margem direita do rio e só os perdeu definitivitamente para a vizinha Wiesbadem, no além-Reno, depois da II Guerra Mundial, confirmando minha hipótese acima! Por enquanto vamos manter todas essas designações conforme as nomeações das fontes, até um melhor esclarecimento da questão dessas fronteiras.
De Mainz, onde fora reunido, o grupo passou por Arnheim e Amsterdãm e seguiu para o porto de Hamburgo, onde se encontrou com mais 29 pessoas vindas do Holstein (hoje Schleswig-Holstein), região do norte da Alemanha, encostada na Dinamarca, e nesse tempo sob o domínio desta. O Holstein era conhecido por suas cidades independentes de Lübeck e Kiel, poderosos centros comerciais do Mar do Norte.
Ocorrendo mortes e desistências entre eles, dos alemães embarcados em fins de março de 1847 em Hamburgo, em dois navios, chegaram a Santos 422 pessoas, após 42 dias de viagem. Depois de um pequeno descanso e desfalcados de mais 21 emigrantes que tomaram outros rumos, 401 pessoas saíram de Santos em 16-5-1847, dirigindo-se à pé ou em carroções de boi para o interior, chegando a IBICABA em 1-7-1847 (há outras versões de datas, mas no momento não temos como confrontá-las). Esses 401 alemães, somados ao grupo de portugueses remanescentes do contrato de Vergueiro de 1842 com colonos minhotos, deram início à colônia de parceria Senador Vergueiro, na Fazenda Ibicaba. Diz-se que aí as 74 crianças das famílias alemãs já puderam contar com escola. É verdade que a alta posição social e política de Vergueiro abria todas as portas, mas eu ainda não entendi como essa massa humana atravessou a província de SP sem deixar rastros, sem causar perturbação local, sem ficar na memória das pessoas… Ainda vou conferir isso lendo documentos da época como os jornais paulistas e os relatórios dos presidentes da província, à procura de vestígios dessa movimentação.
Sabemos desses detalhes da viagem de 1847 por informações do próprio Vergueiro e de outros envolvidos com a imigração à época, como o vice-consul da Suíça no Brasil, Charles Perret-Gentil. Este estava tão interessado na vinda de seus conterrâneos que em 1851 escreveu o livro “A Colônia Senador Vergueiro” para defender a iniciativa de Vergueiro e sugerir que além dos alemães, viessem colonos suíços para São Paulo. (Perret foi cônsul entre meados de 1840 e início de 1850, substituído por Mr. Emery em 1855, por Henrique David até 1856 e depois por Jorge Krug até meados de 1860). E também temos informações lendo os relatórios que eram mandados do Brasil para autoridades da Alemanha e as cartas dos colonos do Holstein, enviados aos parentes ao longo do ano de 1848. Todos esses textos são citados por Heflinger, que também pesquisou em arquivos oficiais e de igrejas na Alemanha. Foi da pesquisa desse autor que nos socorremos na maior parte do tempo para apresentar os dados acima.
Na internet e em outros autores se diz que em 1846-47 vieram também suíços de língua alemã, mas é preciso cautela com essa posição: parece que estes só chegaram mais tarde, coincidindo com as reivindicações de Perret-Gentil dos anos 1850. Consultando por exemplo o site gomessilva2, nele se diz que em 1847 chegaram a Ibicaba 51 famílias de alemães (227 pessoas) e 62 famílias de suíços alemães (306 pessoas), mas, percorrendo a lista que o próprio site apresenta de nomes de imigrantes acompanhados de sua data de chegada, percebe-se que suíços só são elencados a partir de 1852, ano em que encontramos apenas 2 famílias, sendo uma a dos Mayer (João Mayer e a mulher Anna). O número de passageiros suíços é tão pequeno nesses anos que remete mais a empreitadas isoladas que a um movimento de emigração empreitado por agentes comerciais. Em 1853, temos uma família, os Krättly ou Krattlï, representados por João Rodolfo e sua mulher Maria Krättli e os 7 filhos: Elizabeth, Ulrich, Anna, Maria Magdalena, Terezia, Maria e João, que se tornarão nossos parentes; e em 1855, as famílias de Crispim Zinsly, Lourenço Krättly e Jacob Krättly citados como originários de Untervaz; João Ruppert; Jacob Ritter; e enfim João Wolf e sua família, também muito próximos dos Hilsdorf-Hümmel por relações de casamento e compadrio. Em 1858 chegam Jacob Mayer e João Müller e suas famílias, também nossos aparentados.
Por seu lado, os anos de 1846-47 estão associados aos alemães do Hessen e do Pfalz, compreendendo numa lista não exaustiva: Adam Witzel, Anton Exell, Bartolomeu Knewitz, Georg Gebhard, Georg Hellmeister, Valentim Hellmeister, Jacob Lahar, Jacob Vollet, João Fahl, João Frey, William Lebeis, Martin Hülsdorff, Martin Hümmel, William Hümmel, Martin Fischer, Mathias Dengler, Ambrosius Strohband e outros. Encontrei também muitos passageiros prussianos (como a famílias de Mathias Pott, Henrich Schneider; Henrich Heill ou Heil; Valentim Harthmann e Jacob Germann); hamburgueses (a exemplo de Augusto C. Sundfeld e sua família, que prosperaram na cidade de Pirassununga), e até luxemburgueses como os Kapp e os Thiel, mas emigrados em datas posteriores à leva pioneira de 1847. Por isso, vamos por enquanto ficar com a hipótese de que os suíços não chegaram nas primeiras levas, de modo que a diversificação das regiões de origem dos colonos só começou depois, em levas posteriores àquela de 1847.
NÃO temos ainda (2019) os nomes dos dois navios que trouxeram a leva PIONEIRA DE COLONOS PARCEIROS DE IBICABA em 1847, nem a lista oficial dos seus passageiros embarcados. Por isso, vou continuar a utilizar ao longo deste item a versão que encontrei no site gomessilva2 citado, lembrando, porém, que apesar dessa contribuição dos autores do site, infelizmente não temos muita segurança da sua correção, se ela é completa e traduz os efetivos registros, pois, já numa primeira leitura da lista percebe-se que há repetições e muitos erros de grafia dos nomes dos imigrantes. Outro ponto importante: seria preciso explorar também as listas dos passageiros das levas posteriores, mas incorreríamos nas mesmas dificuldades. Mas, fazendo muitas confrontações das informações, é possível no momento, apresentar o que já sabemos sobre os emigrantes que integraram as outras levas que vieram para SP, mesmo porque percebemos que se relacionaram intensamente com aqueles PIONEIROS e seria indevido separar as suas histórias.
No início, entre 1847 e 1852, o destino ao que parece foi apenas Ibicaba, ou no máximo as propriedades da família Vergueiro. Há informações do próprio Senador em correspondência ao presidente da província de São Paulo em 6-1-1852 (ver Heflinger, vol.3, pp. 40-41), contando que ele havia trazido entre 1850 e 1851 mais 65 alemães e 50 portugueses, mas ainda não sabemos quem eram. Nesse período, Vergueiro não avalia bem esses trabalhadores: diz que os parceiros não davam conta com raras exceções da colheita do café porque tinham muitas crianças pequenas, muitos colonos tinham abandonado Ibicaba, e dos que ficaram a maioria era de artesãos, que não sabiam trabalhar a terra, e por isso ele deslocara seus 250 escravos que trabalhavam na lavoura de cana-de-açúcar para ajudar os colonos no café. Segundo Vergueiro, em fins de 1851, Ibicaba somava uma população imigrante de 327 pessoas, entre portugueses e alemães. Mas as vantagens dessa iniciativa deviam ter começado a aparecer, pois ele comprou outra propriedade maior para instalar mais colonos, de maneira que ele fazia planos para ter 4000 parceiros em suas fazendas. O Senador conseguiu também convencer o governo provincial a destinar mais recursos para os seus empreendimentos, pois outros fazendeiros ficaram interessados em implantar o modelo da colônia de parceria em suas terras e ele precisava trazer mais gente. O governo liberou nova ajuda em 1852 e 1854, e José Vergueiro, um dos filhos do senador, ficou encarregado das tratativas. Para isso, ele ampliou sua busca de interessados em emigrar em outras regiões de língua e cultura alemãs.
A leva de 1852 já foi organizada com essa intenção (é o que se percebe lendo Heflinger, que examina as diversas levas de emigrantes nos seus livros). Ela está bem documentada: vieram 36 famílias (c. 170 pessoas) alemãs do ducado de Herzogthum, na região do Holstein, que saíram de Hamburgo em março de 1852 e chegaram ao porto de Santos em 10-5-1852, viajando pela fragata hamburguesa “Marie Emilie”, comandada pelo capitão Lübeck. Trouxeram até o seu próprio material para a escola. Desta vez não foram para Ibicaba, mas para outras colônias: 27 dessas 36 famílias foram para a colônia “São Jerônimo”, situada entre Limeira e Mogi-Mirim, de um genro do Senador Vergueiro; e 9 famílias (entre elas os Voight e os Büll, um deles, de quem perdemos o nome, casado com Suzana Wolf, proveniente de Darmstadt-Hessen) para a colônia “Sete Quedas”, de José Bonifácio do Amaral, situada em Campinas. Sabe-se que dessas 36 famílias chegadas em 1852, 14 delas logo depois (1856) liquidaram seus débitos e compraram terras na fazenda Feital, também região de Limeira, e formaram uma comunidade própria, que deu origem ao atual bairro dos Pires, nessa cidade. Esse ano de 1852 é também apontado pelo proprietário Luiz Antonio de Souza Barros como sendo o do início da colônia “São Lourenço”, na região de Piracicaba, com alemães e suíços, mas não sabemos se foram ou não trazidos pelos Vergueiro, com os quais, aliás, o comendador Barros tinha parentesco próximo.
A leva de 1854 foi contratada pelo agente E. de Paravicini e foi transportada no veleiro do capitão Heinrichsen, que saiu de Hamburgo em 26-4-1854. Heflinger publica no vol. 3, pp. 87-8 (2009), uma pequena amostra da relação dos colonos-passageiros dessa embarcação, respectivamente a primeira e a última página do livro de registro do capitão, e podemos ver que as famílias nelas elencadas eram todas provenientes de cantões suíços (Zurich, Berna, Argau, Gallen…), com sobrenomes como Gattiker, Köhler, Wolkart, Killer, Wÿss, Häfliger, Müller, Meier e outras. O site gomessilva2 por sua vez, refere outras levas de colonos alemães desse mesmo ano, que vieram:
–no brigue belga “Bousselo”, de Antuérpia para Santos, onde chegaram em 4-6-1854, com vários prussianos, como as famílias: Heil originária de Zelig (entre eles Henrich Heil, sua mulher Ana Maria e os filhos Pedro e João; e Joseph Heil, sua mulher Gertrude e os filhos Maria e Pedro); Levÿ (Jacob, sua mulher e 4 filhos); Schmidt-Pott originária de Fesscherveiler (Anton Schmidt, sua mulher Suzana Pott e os filhos Mathias, Maria, Joseph e Adão; e Johanes Pott, sua mulher Margareta Simon e os filhos Margaretha, Elisabeth, Joseph, Johan, Mathias, Johan J., Maria, Catharina e Johanna); e de nosso particular interesse, provenientes de Roderhausen, o casal Andréas Brisel e Margareth Hoeldorf, com seus 4 filhos, ou seja fazendo a correção das grafias, os mesmos André(as) Brïll, sua mulher Margarida Hilsdorf Brïll (sic, mas é Bïll) e os filhos Hubert, Anna, Margarethe e Peter, detalhados em nossa genealogia em virtude de estreito parentesco com os Hilsdorf-Hümmel.
–na barca hamburguesa “Hamburgo”, vinda de Hamburgo para Santos, onde entrou em 12-6-1854, viagem dividida com colonos suíços como: Alois Britschgi e Franz J. Britschgi, este sem mulher, mas com 5 filhos; Ana Maria von Zuben e seus 3 filhos; Sigrist com mulher e 7 filhos; Jacob Fischer; Verena Volchart ou Volkarth; Joseph L. Mayer (de Gebensdorf, no cantão Argau); Joseph Wolf, sua mulher Catharina e seus 9 filhos: Joseph, Catharina, Melchior, Joseph, Franciska, Ana Maria, Peter, Laurentis e Benedict; e membros das famílias Munch, Haflinger, Müller dentre outras.
–no brigue hanoveriano “Hanover”, com colonos alemães saídos de Hamburgo e desembarcados no porto de Santos em novembro de 1854, com alguns suíços infiltrados, como Christiano e Pedro Krähenbühl, com suas mulheres e filhos.
No ano seguinte, 1855, já estavam chegando em massa os suíços reivindicados por Perret-Gentil: vieram 266 pessoas de Basileia, recrutados pelo mesmo agente Paravicini, e embarcados no “Kronprinz Ernest August”, um veleiro hanoveriano, capitaneado por Heinrichsen, o qual, saído em 26-4-1855 de Hamburgo (onde pegaram mais 9 prussianos), chegou em Santos a 14-6-1855. Tem lista parcial dos passageiros colonos em Heflinger (vol.3) e no site gomessilva2. Entre os suíços arrolados (sempre sic) são reconhecíveis não apenas os famosos Davatz, cujo chefe de família irá se envolver na chamada “revolta dos parceiros” de 1856-57; como também nomes que foram a origem do lado suíço da nossa família: Bartholomeu Jost, sua mulher Elisabeth e os filhos Chrispin, Johan e Christiano; J. Jacob Mayer, de Gebensdorf; o numeroso grupo dos Krättli, como Jacob Kratlli, a mulher Maria e os filhos Úrsula, Jacob e Christian; Ana Margarida Krathli e os filhos Maria Úrsula, Tereza e Maria; João Rudolf Kratlli, a mulher Maria e os filhos Joahnes, Elisabeth, Ulrich e Maria; John Kratli, sua mulher Josepha e os filhos Johan, Elisabeth, Sabine e Chrispin; e Laurenz Krattli, a mulher Catharina e o filho Benedict; também Johanes e Elisabeth Ruppert e os filhos Martin e Joseph; os Bürckli como Joseph e Laurenz, suas mulheres e filhos; e enfim, Johanes e Maria Wolf, e seus filhos Joseph, Anna, Margarida, Ulrich, Maria, Christian e Elizabeth, significativos para nós porque entre eles está Maria [Magdalena] Wolf, mãe da nossa avó Christina Wolf Hümmel, casada futuramente com nosso avô Jorge Hilsdorf.
Essa leva é notável também porque os suíços chegaram a Santos e foram repartidos, indo uma parte para a “Fazenda Ibicaba”, outra para a “Fazenda Angélica” situada em Rio Claro, também da família Vergueiro, onde inauguraram a colônia de parceria, e uma terceira parte foi para outra colônia, não nomeada pelos autores, mas que parece ser a colônia da “Fazenda Santo Antônio”, situada em Piracicaba, de Elias Silveira Leite (ainda que Hélio Krähenbühl em artigo para o “Almanaque de Piracicaba de 1955” afirme que eram só alemães). Do grupo que foi para a “Fazenda Angélica” faziam parte os Wolf e os Jost, mais tarde moradores influentes na vizinha cidade de Rio Claro. Os Wolf constituirão por casamento e compadrio parte importante da história de nossos antepassados Hümmel e Hilsdorf, segundo evidenciado nas respectivas genealogias que apresento no lugar apropriado. Sobre os Iost, o autor Heflinger publica no vol. 3 (2009) longa carta de Elsbeth Iost/Jost, em 1-12-1855, contando sua história brasileira aos parentes europeus.
No site citado encontramos a informação de que também atracaram nesse ano de 1855 o vapor “Josepine”, com suíços franceses vindos de Marselha (sim, reconheci alguns sobrenomes dentre aqueles direcionados a Piracicaba); o vapor “Amerika” com suíços alemães (entre os passageiros colonos encontrei sobrenomes como Baungartner, Blumer, Altman, Schmidt); e as barcas hamburguesas “Much” e “Eduard Elise”, saídas de Antuérpia novamente com alemães e suíços (na “Eduard Elise” veio outra parte da família Meyer, sempre da aldeia suíça de Gebensdorf); e enfim, o brigue hamburguês “Margaretha Luíse”, que veio de Hamburgo e chegou a Santos em 34 (sic)-12-1855, trazendo colonos alemães como George e Mariane Wolf e seus filhos José e Amalie (de Riegsdorf); e Auguste Sundfeldt e sua mulher Suzana Margarida, de Hamburgo.
Na leva de agosto de 1856 no brigue hamburguês “Johana Elisabeth” vieram suíços, prussianos (como os Kühl) e mais gente do Holstein; e na do ano seguinte 1857, no brigue belga “Bouprole”, saído de Anvers para Santos onde atracou em 20-5-1857, 137 lavradores belgas (como Carlos de Held e sua mulher Margarida) e prussianos (como Henrique Schneider e sua mulher Ana), e também um grupo de famílias da Silésia (Antonio Pinke e sua mulher Maria; Augusto Höfig e sua mulher Catharina que era de Saxe-Weimar e seus 4 filhos; e Jorge Wolf e sua mulher Mariana e 3 filhos, estes já mencionados (um engano do site ou fazendo uma nova viagem ao Brasil?). Infelizmente para nós, a lista de passageiros do brigue “Bouprole”, que veio em 1857, replica aquela que o site atribuiu também ao navio “Bousselo” de 1854, já copiada acima, de modo que elas não são seguras para a pesquisa: afinal, descontada as alterações de grafia, são os mesmos nomes que são apresentados pelo site como passageiros vindos em dois anos diferentes, em 2 navios diferentes! Qual a verdadeira? De qualquer modo, para possibilitar a correção desse desvio, continuo a divulgar os nomes dos colonos segundo o site , isto é, segundo as listas de 1854 e 1857, aguardando uma solução futura. Considerando os sobrenomes que nos interessam mais de perto, teriam vindo em 1857 no “Bouprole”: Ananéas Büll, sua mulher Margarethe Hösdorf [ou seja, Andréas Bïll e Margarida Hilsdorf] e os filhos Hubert, Margarethe, Anna e Peter; Anton Schimidt, sua mulher Suzana Pott e os filhos Mathias, Maria, Joseph e Adam (de Froschenhe, sic) e Johanes Pott e Margareta Simon e os 9 filhos Margaretha, Elisabeth, Joseph, Johan, Mathias, Johan J., Maria, Catharina, Johanna (de Ferscherveiler, sic, certamente a mesma localidade anterior, com outra grafia); e da vila Zoelb, Henrich Heil sua mulher Ana Eideng e os filhos Peter e Johanes; e Joseph Heil, sua mulher Gertruda Eideng e seus filhos Maria e Peter, explicitando desta vez (em relação ao rol de 1854), que provavelmente se tratava de 2 irmãos casados com 2 irmãs, provenientes da mesma localidade.
Mais suíços chegaram em 1857, 1859, 1862 (como a família de João Müller, direcionada para a colônia de Cananéia) e outras levas dos anos seguintes, mas os emigrantes foram minguando, pois o governo suíço proibira as viagens para as colônias de parceria.
Podemos intuir que desde 1847 os imigrantes de língua e cultura alemã, o que inclui os suíços de fala alemã (talvez desde 1852 mas seguramente mais numerosos a partir de 1855), foram uma febre na província, trazendo muitas mudanças para a cultura paulista, e quem sabe, dando um patamar para o desenvolvimento que SP experimentou nos anos 1870. Vergueiro e seus filhos e outros sócios teriam trazido entre 1847 e 57 cerca 60.000 pessoas para as colônias de parceria da província e até de outras regiões do Brasil, estimulando outros fazendeiros a importar novas levas. Considerando apenas SP, se em inícios dos anos 50 no território da província de SP (que até 1854 ainda compreendia o que hoje é o Paraná) havia 39 colônias de parceria, em 1870 os imigrantes já estavam espalhados em mais de 100 propriedades paulistas desse tipo. Particularmente, desconfio que essas cifras são hiperinfladas, mesmo considerando que trabalhei apenas com as famílias católicas e ao longo de c. de 40 anos, pois percebi que os mesmos nomes e sobrenomes se repetem nas várias cidades, mas essa é uma questão a ser investigada em outro momento.
Há um bom levantamento das colônias mais conhecidas no citado site e em Heflinger (vol. 6, p. 38, 2014, e vol. 3, 2009, pp. 90-105, nas quais foi transcrito o famoso relatório de visita do enviado Tschudi às colônias da província de São Paulo em 1860), mas vamos apresentar as relacionadas aos nossos antepassados. As datas são do ano de criação das colônias, mas os diferentes grupos de colonos que foram contratados ao longo do tempo aparecem apenas nomeados juntos, sem as datas de ingresso, sem precisão do período durante o qual integravam as propriedades. De qualquer modo, é possível ter uma idéia da alocação/movimentação deles pelas colônias nos anos entre 1850 e 70, que é o que nos interessa:
Nos bairros rurais ao redor de RCL foram se formando nas antigas fazendas de café da região as colônias de parceria mais expressivas:
– Biry/Bery/Biri(1852), colônia de José Elias Pacheco Jordão, formada por 90 famílias de alemães (como Guilherme Lebeis; Conrado Witzel, sua mulher Catharina Hilsdorf e seus filhos Magdalena e João, vindos de Ibicaba) e suíços (famílias Isler, Müller, Henrique Murbach, sua mulher Bárbara Fischer e filhos);
– Boa Vista do Passa-Cinco (1852), colônia de Benedito Antonio de Camargo (outra versão: Ana Joaquina Nogueira de Oliveira), formada com alemães (como as famílias de Frederico Hellmeister, do Hesse; Mathias Harthmann de Arnsheim; Jurgen Brüll e sua mulher Margarida Iost, do Holstein; Miguel Emerich e sua mulher Catharina e os filhos Catharina e Pedro, vindos de Ibicaba; os Zinsly; os Leuthold) e suiços (como as famílias de Antonio von Atzingen; Nicolau Jery e sua mulher Catharina; J. Britschgi e sua mulher Christina Jery; Johann Jürg Wolf e sua mulher Ana e filho Henrique, vindos de Neudorf, do cantão Lucerna; os Blümer);
– Corumbataí (1853), do padre Manoel Rosa de Carvalho;
– S. José do Corumbataí (1854), de Domingos José da Costa Alves, formada por 100 colonos;
– S. João do Morro Grande do Ajapi (1854), de João Ribeiro dos Santos Camargo, formada de portugueses;
– Angélica (1855), colônia do senador Vergueiro formada com 8 portugueses e 137 suíços alemães (como os Baungartner, os Blümer, a viúva Johann Wolf, de Untervaz, do cantão Grisões, e Bartholomeu Jost e família, que estavam aí desde 1855);
– Cauvitinga/Couvitinga/Ibitinga (1855), também de José Elias Pacheco Jordão, formada por 69 famílias de suíços alemães (como Theodoro Huffenbächer, Pedro Galliath, João Mische/Mauch, e Lourenço Bürckli, sua mulher Rosa e filhos);
– Cascalho (1887) (onde trabalharam muitos Mayer);
– Cafezal (?).
Na região de Limeira estavam as colônias:
– Palmira (?), de Lourenço Franco da Rocha;
– Morro Azul (1852) de Joaquim Franco de Camargo, com colonos vindos de Ibicaba após a revolta;
– São Jerônimo (1852) de Francisco Antonio de Souza Queiroz, formada por alemães e suíços;
– Santa Bárbara (?), do mesmo proprietário, mas só com portugueses;
– Senador Vergueiro (1847) na Fazenda IBICABA, a mais antiga e famosa dentre as citadas, da família Vergueiro.
Na zona rural de Piracicaba, c. de 5 km do núcleo urbano, foi formada a colônia:
– São Lourenço (1852), da família do Brigadeiro Luiz Antônio, composta de colonos alemães de todas as regiões ao redor do Reno e também de suíços de língua alemã e de língua francesa. O artigo de Hélio Krähenbühl para o “Almanaque de Piracicaba de 1955” é um pouco mais explícito e diz que essa colônia foi formada com 92 famílias sendo 32 suíças e 60 alemãs, e declina os sobrenomes Diehl, Stein, Schmidt, Murbach, Vollet, Portz, Escher, Krähenbühl, dentre outros contratados. Sem a documentação original, fica difícil, porém, entender se esses nomes compõem a leva pioneira de 1852 ou se referem colonos que trabalharam em “São Lourenço” ao longo de vários anos. Uma contribuição vem de um texto de junho de 1874, escrito pelo proprietário de “São Lourenço”, o comendador Luiz Antônio de Souza Barros, filho do Brigadeiro Luiz Antonio, para o jornal “Correio Paulistano” (não identifiquei a data da publicação na cópia acessada pela internet) com o fito de contestar uma investigação aberta sobre a colônia e provar a viabilidade do empreendimento como local de trabalho para os emigrados. No texto, ele apresenta dois quadros, relacionando os colonos que já tinham saído em 1874 e outros que trabalharam entre 1870 e 1874. Vou reproduzir esses dados, abstraindo os nomes que não reconheci:
-para 1852-1870 temos o nome/ano de entrada e saída da colônia/e destino de, entre outros colonos: João Dopp, 1852-69, Pirassununga; Guilherme e Simão Stein, 1852-60, ?; João Waygand, 1852-67, Pirassununga; João Vallet (Vollet), 1852-67, ? [que veio com a mulher Elisabeta e as filhas Gertrudes, Catharina, Maria e Bárbara Vollet, de Fürfeld, na região da Renânia]; Henrique Schmidt, 1852-68, ? [também de Fürfeld, com sua mulher Ana Maria e os filhos Jorge e Adão]; André Portz, 1853-60, Rio Claro; Pedro Krähenbuhl, 1854-68, ?; Fr. Grieger, 1855-67, Pirassununga; João Jacob Müller, 1855-69, ?; Miguel Bambach, 1856-67, Piracicaba; Miguel Petry, 1856-67, Pirassununga; Henrique Escher, 1856-67, ?; João Müller, 1857-69, ?; George Gebhardt, 1859-67, ?; Leonard Siegel 1859-67, ?; viúva Rauenheimer, 1859-69, ?;
–para 1870-74, dentre os 29 colonos que segundo Barros estavam no período trabalhando com suas famílias na colônia, destacamos os nomes de: Jacob Mueller ou Müller; Melchior Gaspar [que era de Oberkulm, no cantão de Argau-Suíça]; Adam Fray ou Frey [de 42 anos, casado, que chegara em 1867, com mulher e mais 4 filhos, natural do Grão-ducado de Baden]; Henrique Munich ou Munch; Jacob Scholl; Jacob Ganger; Miguel Metz; e Miguel Fischer. Vemos que alguns deles eram remanescentes da leva de 1852. E também que embora o autor da tabela diga ignorar o destino da maioria, já os encontramos situados em outras colônias ou nas cidades da vizinhança, o que não seria desconhecido por ele. Nenhuma das 2 lista relaciona, porém, os nomes de Pedro Frey, de 54 anos, casado, natural da Baviera, que veio com mais 5 pessoas da família; e Johann Höfling, com 27 anos, casado, natural da Baviera, com mais 5 pessoas; ambos citados familiarmente como tendo passado por São Lourenço e depois como muitíssimos outros se dirigido para as cidades vizinhas.
Para garantir a veiculação desse importante documento, completo transcrevendo o trecho em que o proprietário Luiz Antonio de Sousa Barros faz um balanço da colônia no ano de 1874, dizendo que “São Lourenço tem presentemente 104 famílias de colonos, integrada por 450 indivíduos (sendo 224 homens e 226 mulheres), dos quais 300 com mais de 10 anos”, ou seja, 2/3 deles era composta por crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações!!
Entre os empreendedores que se interessaram e se associaram aos Vergueiro para trazer imigrantes estava o cônsul suíço no Brasil Charles Perret-Gentil, nosso já conhecido, o qual funda no começo dos anos 1850 a sua própria colônia no litoral do que é hoje Paranaguá/PR. Também se associou a José Vergueiro, o filho do Senador Nicolau que herdou Ibicaba e outros negócios do pai quando este faleceu em 1859, e juntos passaram a trazer mais colonos de parceria da Alemanha e também da Suíça. Provavelmente, foi Perret-Gentil o responsável pela introdução, desde 1852, de seus conterrâneos (os suíços de lingua alemã) na corrente emigratória alemã. Graças ao apoio de Perret-Gentil os suíços logo se tornaram importante contingente dos parceiros em São Paulo, superando até os alemães em algumas colônias: segundo Beatriz Elias (em artigo para o suplemento “Piracicaba-236 anos” do “Jornal de Piracicaba” de 1/8/2003), em 1857 o presidente da província Fernandes Torres mandou à ALPSP um relatório dizendo que havia 25 colônias estrangeiras no território paulista, sendo que “Ibicaba”, em Limeira, tinha 51 famílias alemãs, 68 suíças, 55 portuguesas e 3 belgas; e “São Lourenço”, em Piracicaba tinha 28 famílias alemãs e 36 suíças. Os suíços que vieram eram de língua alemã e francesa, não os de língua italiana. O conhecimento desses fatos corrobora a hipótese que levantei acima de uma fase mais restrita da imigração de parceria entre 1846 e 1852, e depois a fase mais ambiciosa e agressiva no recrutamento pelos fazendeiros e seus agentes, de grupos diversificados de europeus.
Mas não sabemos se os Vergueiro, Perret-Gentil, e os demais lucraram com os resultados, pois aconteceram muitos problemas. A leva de suíços de 1855, já apresentada acima, é particularmente famosa, justamente por causa da revolta dos parceiros que eles encabeçaram. Dentre os colonos que vieram para Ibicaba nessa viagem estavam grupos da região do Vale de Prätigau, entre eles Thomaz Davatz e sua família (ele, a esposa e nove crianças), da aldeia de Fanas. Davatz não era propriamente colono, pois viajou em condições especiais e, além de designado professor das crianças, atuava como uma espécie de responsável e porta-voz do grupo, que passou a reinvidicar a revisão dos acordos com os fazendeiros e melhor tratamento. Ele foi uma liderança dessa revolta dos colonos nos anos 1856 e principalmente 1857, que de Ibicaba se espalhou para outras colônias: Ubatuba, São Jerônimo, Santo Antonio, Bery e outras, convulsionando a região de Limeira, Piracicaba, Rio Claro, Campinas etc e causando muita preocupação às autoridades da província. Sabe-se por Heflinger que os colonos de Santo Antonio (em Piracicaba) e Bery (em Rio Claro) foram enviados para uma nova colônia em Cananeia. Mas houve outros deslocamentos. Imagino que diante da confusão alguns aproveitaram para se mudar para as cidades vizinhas a Limeira: RC recebeu a maior parte deles. Diante da dimensão do movimento, houve troca de correspondência e muita discussão no governo imperial. Mas a Suiça também era conivente com engodos que os proprietários praticavam contra os trabalhadores. Brasil e Suíça mandaram seus visitadores para avaliar a situação grave de rebelião e acabaram proibindo novas saídas de colonos. Da parte dos alemães, a emigração deles já caíra em declínio entre os anos 1856-61 e foi totalmente paralisada entre 1871 e 1893, em função da proibição da emigração pela Prússia e depois por todas as regiões da Alemanha (ainda que, ao longo de todo esse período, continuassem a entrar em SP colonos alemães independentes).
É por essas razões que penso que os passageiros alemães embarcados em Hamburgo para Santos na barca hamburguesa “Willinck”, e desembarcados em 1-10-1858, não constituíssem propriamente uma leva de imigrantes, mas famílias independentes que vinham se juntar a outros familiares já instalados aqui: parece ser esse o caso de figuras como Suzane Sundfeldt, proveniente do próprio porto de Hamburgo, que veio acompanhada só dos filhos Helma, Marie, Henriqueta, Guilherme, Herman e Conrado para se juntar ao marido A. Sundfeldt: o notável é que neste caso o casal também está na lista de passageiros que desembarcaram em 34 (sic)-12-1855, sugerindo que ela foi buscar sózinha os filhos, no intervalo das duas viagens de 1855 e 1858!!; e Justo Hilbig, sic mas na verdade Hebling, sua mulher Ana e os filhos Conrado, Felipo e George (de Biblis, no Hessen, aliás, a mesma aldeia dos Hümmel vindos em 1847) que tinham outros filhos já vivendo aqui e que se tornaram parentes nossos bem próximos durante várias gerações. A situação de José Vergueiro e seus sócios como “importadores” dessa mão-de-obra foi bastante afetada.
Há indicações de que ele ainda trouxe no mínimo duas levas de imigrantes para reforçar o trabalho em Ibicaba, em 1862:
– diante do impedimento dos suíços, fez uma viagem com prussianos, holandeses e luxemburgueses embarcados em Anvers, no patacho holandês “Jan e Albert” do capitão Wiennga, que entrou em Santos em 3-7-1862 (Heflinger dá 30/6/1862), trazendo entre outros a família de Peter Kapp/Capp, sua mulher Maria Catharina Thiel e os filhos Nicolas, Johan, Elisabeth, Catharina, Mathias, Johan e Maria, provenientes de Eruzen, no Luxemburgo;
– e outra só com prussianos, no patacho dinamarquês “Challenger” do capitão W.Lubbe, que saiu de Anvers e chegou a Santos em 26-7-1862, onde estavam entre outros Jacob Germann, sua mulher Clara e os filhos Wilheim, Teresia, Catharina, Sophia, Jacob e Clara, da aldeia de Grisbelscheid Aldembrug, que logo se tornariam familiares próximos dos Hümmel e dos Hilsdorf; vários membros da família Müno; e outros membros da influente família Hartmann: Valentim, a mulher Henriette e os filhos Jacob, Sophia, Johann e Catharina, vindos de Zusch.
José Vergueiro teria trazido ainda, em 1867, colonos das regiões do Baden e da Baviera, talvez ilegalmente, pois ele já estava sendo processado desde a revolta de 1856-57. Um sinal de que as coisas não corriam bem é que esses emigrantes mais tardios foram embarcados em portos não usuais (Anvers e Antuérpia), e não no conhecido porto de Hamburgo. Vergueiro estava para falir em 1865, mas conseguiu reverter para concordata ao hipotecar em garantia do pagamento de seus débitos as próprias fazendas “Ibicaba” e “Angélica”. As colônias foram se aguentando com alguns colonos parceiros remanescentes e o plantel de escravos até que tudo desmoronou na década de 1880, com a Abolição. Ibicaba e outras propriedades dos Vergueiro que já vinham perdendo lotes de terras, passaram aos bancos credores e finalmente foram vendidas em leilão público. Em 1893 a “Fazenda Ibicaba” estava nas mãos do capitão Flamínio Ferreira e mais a família Levy, antigos colonos suíços vindos numa das levas de 1857. Desde 1871 a “Fazenda Angélica” era propriedade do London and Brazilian Bank e segundo informação retirada da dissertação de Flávia M. Gouvêa, 2011, em 1880 um grupo de 16 ex-imigrantes alemães comprou parte das terras. Dentre eles aparece o sobrenome Helsdorf/Hilsdorf (provavelmente João Hilsdorf, também nomeado em documentos da época como morador e proprietário em RCL). O remanescente da propriedade foi adquirido pelo barão de Grão-Mogol e ficou conhecido como a fazenda do “Sobrado”.
E) OS HÜMMEL-HILSDORF PIONEIROS DE IBICABA
Exposto esse contexto, é certo que precisamos tentar recomeçar nossa genealogia com os PIONEIROS DE IBICABA, ou seja, desde a primeira leva (1846-47), para confirmar se nossos antepassados tomaram parte nela e como isso foi importante para a nossa história. E temos um documento fundamental para essa empreitada, que foi localizado por Heflinger em um arquivo brasileiro: no acervo de Paulo Levy, em Limeira, sendo Levy membro da família que comprou Ibicaba quando os Vergueiro perderam a propriedade, c.1889-90. Trata-se daquele primeiro livro de registro da colônia de Ibicaba, já aludido acima, intitulado “Livro de Abertura [Fundação] da colônia Senador Vergueiro na Fazenda Ibicaba em Limeira/SP, em 1º/8/1846, o qual arrola os primeiros colonos que foram contratados na Alemanha a partir dessa data, e viajaram para o Brasil em inícios de 1847 (pelo que entendi, sem distinguir os que efetivamente viajaram e adentraram na colônia Ibicaba dos demais engajados). Esse é o nosso Documento 1, a nossa primeira fonte.
Heflinger publica parcialmente esse “Livro” no vol. 2 (2007), pp. 35, 36 e 131, e no vol 3 (2009), p. 25, em 2 formatos: na p. 36 reproduz fotograficamente do original que ele viu as 4 primeiras páginas, com 89 nomes de colonos alemães e portugueses manuscritos e numerados; e nas pp. 35, 131 e 25 ele traz a transcrição datilografada em português de 98 nomes em sequência, mas sem numeração. Faço esse detalhamento porque as duas relações não batem, nem na grafia, nem na ordem de apresentação, e sobretudo, nem na quantidade. Mas isso não foi um problema para nossa genealogia, pois conseguimos reconhecer nesses materiais apresentados por Heflinger não só nossos antepassados Hümmel-Hilsdorf como também muitos dos seus companheiros de emigração, citados pela família como aparentados, amigos ou de simples convivência social:
a) na lista das pp. 35, 131 e 25, distinguimos os seguintes nomes transcritos e datilografados de emigrantes:
– Martim Hüllsdorff, que entendo ser Martinho Hilsdorf, pai de João Hilsdorf (1831), avô de Jorge Hilsdorf (1859) e bisavô de Mario, Waldomiro e José Hilsdorf e outros irmãos (sim, confirmado);
– Jacob Scholl, vizinho dele na Alemanha;
– Martim Fischer, talvez com parentesco (sim, confirmado, pai de um futuro genro de Martin Hilsdorf);
– Wilhelm [Guilherme] Lebeis, com parentesco ainda não esclarecido;
– Wilhelm [Guilherme] Hümmel, cujo parentesco ainda não está esclarecido;
– Martim Hümmel, que entendo ser Martinho Hummel, pai de Martinho Hümmel (Filho), avô de Cristina Hümmel (1869) e bisavô de Mario, Waldomiro e José Hilsdorf e outros irmãos (sim, confirmado);
– Johann Frey [João Frey], pai de Margarida Frey, mulher de João Hilsdorf, pais de Jorge Hilsdorf e avós de Mario, Waldomiro e José Hilsdorf e outros irmãos;
– Jacob Vollet, família aparentada por casamento com os Hümmel-Hilsdorf e outras famílias emigrantes;
– Adam Wetzel [Adão Witzel], que entendo ser de família aparentada por casamento com os Hümmel-Hilsdorf (sim, confirmado, Adam era pai de futuro genro de Martin Hilsdorf);
– Nicolau Heinz e João Heinz, aparentados por casamento;
– e dentre outros mais: Ludwig Barth, Ambrosius Strohband; Bartholomeu Knewitz; Martin Schimidt, Michel Emmerich, ?Hartmann, ?Arnolt, Francisco Dengler, Johann Tapp, Johann Hüppert, Georg Gebhard, Jacob Lahr; Anton Exell, Heinz Himiann, Johann Zimmermann, Jacob Schimidt, Andreas Sax, Valentim Rauenheimer, Georg Hellmeister, e Francisco Rigo.
b) na relação da p. 36, acompanhando a sequência manuscrita e numerada dos originais, percebi os nomes de:
26 Michel Emmerich
27 Martin Fischer
28 Andreas Sax
29 ? Hartmann
31 ? Arnold
33 Nicolas Heinz
37 Wilhl [Guilherme] Lebeis
41 Ambrosius Stroband
45 Johann Tapp
46 Martim Hülsdorf
47 Jacob Scholl
50 Jacob Schimidt
51 Wilhelm [Guilherme] Hümmel
52 Francisco Dengler
53 Martim Hümmel
54 Johann Frey (?)
55 Luiz Barth
56 Johann Zimmermann
66 Heinz (?) Himian
69 Jacob Lahr
70 Anton Exell
71 Valentim Rauenheimer
72 Johann Hüppert
74 Bartholomeo Knewitz
76 Henrich Hillmeister
82 Jacob Vollet
84 Adam Wetzel
85 Johann Heinz
87 Martim Schimidt
89 Georg Gebhardt
E outros, que não copiei.
Vou considerar esses nomes da lista de 1846, apresentada nos seus 2 formatos ou disposições a) e b) segundo transcrições de Heflinger, como PIONEIROS DE IBICABA, pois, mesmo que a lista trate dos contratados na Alemanha, temos 2 outros documentos que confirmam que eles vieram para a colônia do Senador Vergueiro na Fazenda IBICABA. Nossos antepassados e os demais citados são, portanto, PARCEIROS PIONEIROS EM IBICABA, o que nos remete para um tempo anterior ao dos relatos familiares que, como vimos, começam com João [Conrado] Hilsdorf e seu irmão Jorge, aliás, não referidos nessa lista.
A segunda fonte mais interessante para nós vem justamente do cônsul da Suíça, Charles Perret-Gentil, já citado. Sabemos que, em 1850-51, ele já estava envolvido com o apoio ao sistema de parceria tocado pelos imigrantes alemães e fazia movimentos para captar o interesse das autoridades suíças para trazer seus compatriotas para cá, o que de fato vai acontecer nos próximos anos. Uma das “provas” que ele apresentou para mostrar o sucesso da empreitada inaugurada pelo Senador Vergueiro foi uma tabela dos colonos que viviam em Ibicaba em 1850, com dados da performance das famílias no trabalho com o café na fazenda, desde a primeira colheita em 1847, mais as de 1848, 1849, e primeiro trimestre de 1850, tudo registrado em francês. Esse “Tableau” [Quadro] está publicado em Heflinger, vol. 3 (2009), pp. 30 e 31, e parcialmente, no vol. 6 (2014), p. 136. O título é “Tableau de l’ Etat de la Colonie, des comptes au 15 mars 1850, des avances, des récoltes du café”. É o nosso Documento 2. Ainda que limitado pelo fato de registrar o nome dos chefes das famílias, e não o dos seus integrantes, se torna precioso para nós uma vez que, para atingir aqueles seus objetivos de valorizar o sistema de parceria, Perret-Gentil acrescentou outras informações superimportantes, como número de membros, religião, posses etc. Assim é possível ver os nomes das famílias PIONEIRAS DE IBICABA e sua situação em 15-3-1850, data do documento, e perceber como são antigas as relações de parentesco e amizade entre elas, que conviviam proximamente na colônia do Senador Vergueiro como agentes econômicos, sociais e culturais. Sabemos que os Hümmel e os Hilsdorf se casaram entre si e com membros de outras famílias que aparecem arroladas nessa lista, e que mantiveram convívio com elas até o final de suas vidas PIONEIRAS e pelo menos mais uma ou duas gerações, que pude acompanhar pela documentação pesquisada. Localizei, dentre os 72 nomes arrolados por Perret-Gentil no seu documento manuscrito, os de:
No. 09 viúva Frei, com 1 criança [cça]
No. 10 Hümmel, Martin, com Mulher [M] e 4 cças, 1 vaca, 1 cavalo
No. 12 Gebhardt, com M e 2 cças
No. 13 Sax, com M e 5 cças, pedreiro, 2 vacas
No. 14 Huppert, com M e 1 cça, marceneiro ou carpinteiro, 2 vacas
No. 15 Witzel, com M e 1 cça, cordoeiro?, 1 vaca
No. 16 viúvo Witzel, Adam, com 3 cças, 1 vaca
No. 17 Heintz, Jean com M e 4 cças, 1 vaca
No. 18 Wollet, Jacob, com M e 6 cças, açougueiro, 1 vaca
No. 22 viúva Schmidt, Bárbara, com 2 cças, 1 vaca
No. 26 viúvo Heintz, Nicolas, com 3 cças, 1 vaca, 1 cavalo
No. 28 viúva Knebiltz, com filha viúva
No. 29 Lahr, J. com M e 4 cças, 1 vaca
No. 31 Dängler, com M e 5 cças, 1 vaca
No. 32 Vollet, Jean, com M, açougueiro, 1 vaca
No. 35 Arnold, com M e 2 cças, pedreiro
No. 39 Scholl, com M e 1 cça, alfaiate, 1 vaca
No. 40 Strohband, com M e 5 cças, barbeiro, 2 vacas
No. 43 viúvo Barth, sózinho, tisserant
No. 44 Schmidt, Jacob com M e 3 cças, tecelão, 1 vaca
No. 45 Rauenheimer, com M e 4 cças, 1 cavalo e 1 vaca
No. 46 Topp, com M e 4 cças, 1 vaca e 1 cavalo
No. 47 Hümmel, Wilhen, com M e 8 cças, 1 vaca, 1 cavalo
No. 49 Viúva Himinan, com 6 cças
No. 51 Zimermann, com M e 3 cças, 1 vaca e 1 cavalo
No. 55 Lebeis, com M e 5 cças, Inspetor, 1 vaca
No. 56 Hüsseldorf, com M e 6 cças, Inspetor, 2 vacas, 1 filho é [ilegível, talvez ferblantier/latoeiro]
No. 59 Emerich, com M e 3 cças, 1 vaca
No. 64 Exel, Anton, com M, marceneiro, trabalha na fazenda
No. 65 Wehrsig, com M e 4 cças, professor
No. 66 Jonas, com M e 5 cças, intérprete, diretor
No. 68 Hellenmeister, com M e 1 cça.
No. 69 Hartmann, com M
No. 71 Rego/Rigo?? (família??), com M e 11 cças, 3 cavalos
No. 72 Meyer (família??), com M.
Então temos a situação da nossa família PIONEIRA Hümmel-Hilsdorf em 1850:
Número 10 = Martin Hümmel, com mulher e 4 crianças. Não temos nomes nem idades da mulher e crianças, que podem ser nascidas na Alemanha ou já no Brasil (entre 1847-50), mas fala da situação desde 1847, portanto são PIONEIROS. Têm posses.
Número 56 = Martin Hilsdorf, com mulher e 6 crianças. Não temos nomes nem idades da mulher e crianças, que podem ser nascidas na Alemanha ou já no Brasil (entre 1847-50). Fala da situação desde 1847, portanto são PIONEIROS. Têm posses e ele é inspetor, portanto não trabalha mais plantando o café. Um filho (qual?) é latoeiro.
Acrescento como outro exemplo a identificação (aliás, modelo da nossa), feita por Bruno Witzel-Souza da sua própria família PIONEIRA:
Número 15 = ? Witzel com mulher e 1 criança. Não fala da situação em 1847, portanto ou chegaram depois ou é família formada depois de 1847, por casamento.
Número 16 = Adam Witzel, viúvo com 3 crianças (segundo pensa Bruno W., trata-se de “jovens saudáveis”, porque Perret-Gentil acrescenta que a família é encarregada de muitos pés de café). Fala da situação em 1847, portanto são PIONEIROS. Indica que a mulher de Adam já falecera antes de 15-3-1850.
Vou aproveitar para trazer informações também sobre outra dessas famílias de colonos PIONEIROS, parentes distantes nossos, mas muito presentes como amigos/companheiro/relacionados aos Hümmel-Hilsdorf, principalmente entre os integrantes das primeira e segunda gerações: os Lebeis se tornaram conhecidos além do “núcleo colonial”, pois alguns descendentes fizeram casamentos em famílias abonadas de cafeicultores e têm presença na vida cultural paulista, mas podemos perceber que a história delee é partilhada em muitos pontos com os demais imigrantes, inclusive nossos antepassados. Isso explica a redação de um Anexo Lebeis para eles.
Número 55 = [Guilherme] Lebeis com M e 5 crianças, tem posses e é inspetor, não trabalha mais plantando o café. Trata-se da segunda mulher, pois esse PIONEIRO (*1800 – e + 8-2-1885, nascido em Gau-Algeshein, no Pfalz, Alemanha e falecido em sua chácara em RCL), foi casado pela primeira vez em 18-7-1826 com a conterrânea Katherine Fluehr (*12-3-1800 – +25-1-1846, nascida e falecida em Gau-Algeshein), filha do militar Joseph Fluehr e de Margareth Barth. Há PIONEIRO com este sobrenome Barthe, provavelmente parente, mas parece que a família não emigrou. Não sabemos se todas as 5 crianças são filhos de Katharine, mas parece certo que Guilherme decidiu emigrar logo após o falecimento dela. Em março de 1850 ele já tinha uma segunda esposa, conforme a lista de Perret-Gentil. Talvez a situação familiar e não a econômica fosse responsável pela decisão de partir de Lebeis, pois sua família vivia do trabalho numa pequena propriedade agrícola, de posse secular. Mas talvez ele tivesse perdido essa propriedade, e daí a mudança de vida.
Guilherme Lebeis e Katharine Fluehr foram pais no mínimo de um filho do mesmo nome, nascido na Alemanha (*20-10-1836 em Gau–Algeshein – +3-3-1912 em SP), portanto com c. de 10 anos por ocasião da emigração para Ibicaba, que se tornou um famoso capitalista em SP, proprietário do “Hotel de França” (ex-Hotel Itália, da família Maragliano), instalado nos Quatro Cantos (cruzamento da rua Direita com rua São Bento, num antigo sobrado do major Jordão – ou do barão do Iguape????). Esse Guilherme Lebeis Jr, um dos fundadores da Estrada de Ferro Araraquarense, casou-se com Escolástica de Arruda Botelho (*10-1-1846 – +24-8-1922), a Sinharinha, neta de um dos fundadores de RC. Guilherme e Sinharinha tiveram larga descendência, entre eles o poeta contemporâneo Paulo Lebeis Bonfim, de quem tiramos em parte essas informações. Pela nossa pesquisa, localizamos outros filhos de Guilherme Lebeis, que são apresentados no respectivo Anexo.
Relacionada à “revolta de Ibicaba” está a terceira fonte mais importante para nós, publicada por Heflinger no vol. 3 (2009), p. 62 e vol. 6 (2014), p. 62. É o “Anexo no. 1 – Relação dos colonos entrados para a Colônia Senador Vergueiro desde a sua fundação, e que sairam com saldo a favor, conforme a lista apresentada pelo empresário”, que considero o nosso Documento 3. De onde vem esse documento? Heflinger descobriu que quando das agitações dos parceiros, o marquês de Olinda, ministro do Império do Brasil à época, escreveu carta em 10-4-1858 ao visconde de Maranguape, ministro do Exterior do Brasil, dando sua versão da situação dos colonos suíços para que este pudesse responder a um questionamento das autoridades suíças datado de 2-12-1857. Maranguape escreveu a sua carta aos suíços em 8-5-1858. Essa correspondência está toda conservada num arquivo de Berna, no prontuário do processo Vergueiro, descoberto por Heflinger. A carta do marquês de Olinda traz em anexo justamente essa “Relação” dos colonos pioneiros de Ibicaba que estavam trabalhando ou haviam deixado a colônia com saldo favorável, preparada pelo “empresário”, isto é o próprio Senador Vergueiro, para mostrar que a colônia de parceria “era do bem” = permitia o sucesso dos parceiros, que conseguiam acumular capital. Vergueiro certamente foi contatado por Olinda para que lhe transmitisse dados que subsidiassem a defesa do sistema de parceria que faria perante o colega, o ministro do Exterior Maranguape, daí ter preparado o documento.
Dessa Relação de 1858 (ou “Anexo no. 1”), que abrange a situação de 1 brasileiro, 31 portugueses, 56 alemães, 9 suíços, e 2 espanhóis, ou seja, 99 colonos de Ibicaba, só copiei os nomes e a situação dos patriarcas ALEMÃES, COLONOS, pioneiros (P) ou vindos em levas posteriores (NP), da nossa família ou com ligação reconhecida com esta, caso de alguns SUÍÇOS e ESPANHÓIS. Os nomes apresentados em sequência não estão numerados no original publicado por Heflinger, mas criei uma numeração para facilitar as remissões a eles:
Colonos Alemães (todos Pioneiros):
04 Hemian = saiu com saldo e morreu (P)
06 Jorge Hellmeister = saiu e tem oficina de alfaiate (P)
07 Luiz Barth = está na colônia e tem $ (P)
08 Miguel Emerich = saiu e é proprietário (P)
10 Hartmann = proprietário de alfaiataria (P)
13 Nicolau Heinz = saiu com saldo (P)
15 Guilherme Lebeis (grafado Sebus) = é proprietário (P)
18 Jacob Schmidt = na colônia e tem $ a prêmio (P)
19 João Frely (Frey?) = saiu com $ (P)
20 Guilherme Hümmel = saiu com $ (P)
21 Fr. Dängler = saiu com $ e comprou chácara (P)
22 Martinho Hümmel = estava na colônia com 2.000$000 a prêmio (P)
23 João Zimmermann (grafado Zimeiman) = tem $ a prêmio (P)
29 Valentim Rauenheimer (grafado Valentino Ramenhumer) saiu com $ (P)
30 João Huppert = saiu e é proprietário (P)
32 João Vollet (grafado Wallet) = o pai morreu e deixou haveres para os filhos que estão estabelecidos (P)
34 Adão Witzel = saiu e comprou chácara (P)
35 João Heinz (grafado Heing) = saiu e comprou chácara (P)
37 Martinho Schmidt = morreu, um filho é diretor da colônia S. Lourenço e o outro está estabelecido na vila de Limeira (P)
38 Georg Gebhard = saiu com saldo (P)
47 Valentim Hellmeister = está na colônia e tem $ (P)
51 João Hilsdorf (grafado Hulfelsdorf) = saiu com $ e é proprietário (P)
53 M.(athias) Dängler = está na colônia, tem $ e padaria (P)
55 Pedro Frey (grafado Trey) = saiu e é diretor da colônia de J. B. do Amaral (P)
Colonos Suíços (todos não Pioneiros):
05 H.(enrique) Schmidt = saiu e é proprietário (NP)
07 Jorge Meyer = na colônia e tem $ (NP)
08 Jacob Kratly (filho) = saiu com saldo (NP);
Colonos Espanhóis:
01 Francisco Rigo = saiu com saldo e comprou um sítio (P)
02 Felippe Rigo = acha-se na colônia e tem $ (NP)
Vemos que Martin Hilsdorf não aparece na listagem desse Documento 3, de 1858, ainda não sabemos a razão, ou melhor, por suposição, por já ter se fixado em outro lugar. Quem é mencionado é seu filho João Hilsdorf, mas presente pela ausência. E como novamente está sem o Conrado, então vamos assumir que João é o nome correto, e deixaremos de incluir Conrado, contrariando os relatos familiares. Também não consegui saber da lista acima a relação entre os patriarcas 20 e 22, mas as famílias PIONEIRAS dos patriarcas 6, 22, 34, 38, 47, e 51 eram ou se tornariam aparentadas nas gerações seguintes, idem para 1, 2 e 32, idem para 22, 34 e 51, idem para 22, 8 e 51, e idem para 19, 20, 22 e 51, ou seja, são aparentados entre si, com exceção dos Dengler. Os irmãos Waldomiro, José e Mario Hilsdorf, por exemplo, descendem diretamente de um Hilsdorf 51 casado com uma Hummel 22.
[Para identificar outras famílias Pioneiras além das que selecionei, ver os livros de Heflinger: no volume 2 (2007) tem Documento 1 (pp. 35, 36, 131) e uma lista das embarcações estrangeiras entradas no Brasil nos portos do RJ e de Santos; no volume 3 (2009) tem Documento 1 (p.25), Documento 2 (pp. 30-31) e Documento 3 (p. 62); e no volume 6 (2014) tem Documento 3 (p. 62) e uma relação de colônias de parceria em São Paulo (p. 136)].
Um dos entraves ao fazer este trabalho de reconhecimento e localização adequada dos casais e filhos na linha do tempo aconteceu porque na maioria das vezes: 1) num período em que as relações sociais ainda eram mediadas pela oralidade, a grafia dos nomes e sobrenomes era muito variada, dependendo de quem fazia o registro: o escrevente (padre, sacristão, ou escrivão da paróquia) anotava o que ouvia, tentando dar conta do pronunciado em alemão, de maneira que só ao longo do tempo é que a escrita foi se uniformizando, consagrando uma grafia que se tornou a “correta” 2) os nomes não são acompanhados de datas 3) há muitos nomes idênticos, que se repetem ao longo das gerações, ficando difícil identificar quem é quem e onde se inserem na cronologia 4) mais do que dos pais, os bebês levavam os nomes dos tios/as, avôs/avós, mas sobretudo dos seus padrinhos/madrinhas de batismo, fossem ou não parentes 5) muitas vezes o primeiro filho leva o nome do avô paterno se menino e avó materna se menina 6) muitas vezes irmãos/ãs mais novos repetem o nome de irmãos/ãs mais velhos, já falecidos e 7), enfim, dentro do espírito patriarcalista do século XIX, as mulheres dificilmente carregam os sobrenomes da família de origem, mas não sabemos se por uso dos escreventes dos registros, ou como traço cultural dos imigrantes, provavelmente dos dois lados.
Mas, considerando essas fontes tão importantes para nós (o “Tableau/Quadro” feito por Perret-Gentil em 15-3-1850, o “Anexo” à carta de Olinda de abril de 1858, além, é claro, do “Livro” de contratos de 1-8-1846, isto é, os Documentos 2, 3,1, respectivamente), podemos dizer alguma coisa sobre nossa família da linha Hummel-Hilsdorf: SÃO SIM PIONEIROS DE IBICABA, DE QUATRO COSTADOS, como a gente diz, não só porque chegaram na primeira leva de emigrados em 1847 como porque viveram como pioneiros: vieram juntos e assim permaneceram, movimentando-se conjuntamente no tempo e no espaço (geográfico e social!) que ocupavam, sendo vizinhos e compadres, casando-se nas outras famílias emigrantes alocadas em Ibicaba ou em colônias das vizinhanças, e gerando descendentes que repetiram essas práticas na primeira e até segunda gerações, mantendo aqui os laços de sangue e amizade constituídos durante a emigração, se é que não já pré-existentes na Alemanha. Essa condição pode ser percebida, por exemplo, com a leitura dos Anexos, onde reconhecemos famílias emigradas intensamente enlaçadas aos Hümmel e Hilsdorf Pioneiros por casamentos e apadrinhamentos mútuos. Atualmente, a situação é bem outra!
As imagens abaixo e suas legendas foram tiradas de Heflinger, vol. 3 (2009) e mostram a fazenda provavelmente no século XIX (1 a 5) e início do XX (6 e 7), mas não podemos garantir que representem a IBICABA do tempo dos PIONEIROS.
(1) Vol. 3 p.23: Colônia da Fazenda Ibicaba (século XIX). Reproduzido do livro de Th. Davatz (1858) Memórias de um colono no Brasil.
(2) Vol.3 p.22: Litogravura da Fazenda Ibicaba (século XIX). Reproduzido do livro de Kidder e Fletcher (1857) Brazil and The Brazilians.
(3) Vol.3 p.78: Fazenda Ibicaba, litogravura, acervo Família Levy.
(4) Vol.3 p. 168: Colônia da Fazenda Ibicaba. Reproduzido do livro de Kidder e Fletcher (1857) Brazil and the Brazilians.
(5) Vol.3 p.41: Vista Geral da Fazenda Ibicaba, desenho de autor desconhecido. Banco de imagens do Carlota Schmidt Memorial Center-Album José Vergueiro, acervo Dra. Lotte Köhler.
(6) Vol.3 p. 177: proprietários e colonos em frente da antiga sede da Fazenda Ibicaba. Coleção da Família Levy. Data provável da foto: começo do século XX.
(7) Vol.3 p. 60: Sede da Fazenda Ibicaba construída no século XIX. Acervo Familia Levy.
F) OS PIONEIROS DEPOIS DE IBICABA
Outro aspecto desta pesquisa se refere justamente ao dado histórico de que muitos colonos saíram de Ibicaba (ou outros estabelecimentos rurais congêneres) e se dirigiram para as cidades, retroalimentando a necessidade da importação de novos imigrantes para as colônias do ponto de vista dos empresários. Muito rapidamente, os PIONEIROS DE IBICABA e seus descendentes, incluídos ai os nossos antepassados, são encontrados morando e trabalhando nas cidades e fazendas da região.
Esse direcionamento para as cidades vem sendo explicado pela desadaptação dos imigrantes às lides na zona rural paulista, aos desacordos com os fazendeiros, às más condições de vida, mas também porque nas cidades e vilas eles podiam voltar às suas profissões de origem, urbanas, artesanais ou no comércio que já exerciam na Alemanha. Eu vou mudar um pouco essa percepção: minha hipótese é que eles, na Alemanha, não viviam em cidades, nem desempenhavam profissões típicas das cidades: pelo contrário, as vilas alemãs onde moravam eram pequenos aglomerados (pequenos mesmo, constituídos de 6, 10, 12 casas!) em meio ao campo, os quais favoreciam um modo de vida que lhes permitia exercer ao mesmo tempo funções em todos aqueles setores da produção, conciliando trabalho agrícola com serviços, artesanato e produção simbólica. Ou seja, tendo aceitado contratos como colonos de parceria do cultivo do café nas fazendas paulistas por estratégia de sobrevivência, da qual fazia parte a visão equivocada (talvez tivessem sido induzidos a pensar assim), de que a vida rural aqui seria semelhante àquela de lá! Quando procuraram as cidades para morar, em geral escolhiam seus espaços semi-rurais para viver e trabalhar, ou seja, os subúrbios, as chácaras, os caminhos para os bairros rurais, ainda que a segunda geração, acompanhando as transformações operadas pelo processo de urbanização do final do século XIX, e até se comportando em muitos aspectos como seus agentes, tivesse instalado seus negócios/oficinas e propriedades no coração da zona urbana (cf. o Almanaque do Molina para 1873, que dá essas informações para Rio Claro).
Conhecer esses deslocamentos também ajudou a compor a nossa genealogia. Não sabemos com precisão as datas de saída, nem se há alguma relação destas com os movimentos de sublevação de 1856-7. O autor Argolo Ferrão, da Unicamp, acha que a saída foi anterior. Ele cita um relatório de 1855 do diretor da colônia à época, João Adolfo Jonas, indicando quantas famílias já tinham saído de Ibicaba até esse ano e para onde: 15 famílias para Limeira, 11 para RCL, 10 para Campinas, 8 para Porto Feliz, 4 para Mogi-Mirim, 1 para RJ, 2 para Piracicaba e outras que ele não sabia precisar. Isso parece indicar que as saídas foram anteriores à “revolta de Ibicaba”. Mas Argolo Ferrão acha que esse movimento pode ser antecipado para uma data ainda mais anterior, o ano de 1852, quando ocorreu uma importante debandada de um grupo de PIONEIROS DE IBICABA em direção a Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Campinas, Leme, Pirassununga, Cordeirópolis e Iracemápolis. Outros permaneceram trabalhando na fazenda.
Em qual grupo ficaram nossos parentes? Para a maioria deles a saída de IBICABA para as cidades se deu mesmo c. 1852, pois muitos familiares da atualidade guardaram na memória essa data. Lendo o “Anexo no. 1 de 1858” que apresentamos acima (o nosso Documento 3), dá até para identificar alguns sobrenomes de famílias que tinham partido antes de 1858: os Frey, Vollet, Gerhard, Witzel, Hilsdorf e parte dos Hellmeister e Hümmel, todas famílias PIONEIRAS que, vindas juntas na primeira leva, parecem ter se organizado para sair juntas das colônias (e permanecer unidas por futuros casamentos e compadrio). Da minha parte, a pesquisa nos documentos de batismo, casamento e morte da paróquia de Limeira, que abarcava Ibicaba e outras colônias da região, me mostrou que os “alemães”, ou seja, os colonos PIONEIROS tinham alta presença nos seus registros até c. 1853, quando começam a crescer nas paróquias de Rio Claro e Piracicaba. Mesmo assim, considerando a incidência de novos sobrenomes alemães e suíços percebidos em Limeira, parece que com raras exceções os emigrantes sempre passavam pelas colônias antes de irem para as cidades, de modo que mais do que num evento de abandono é preferível falar em fluxo contínuo das colônias do primeiro contrato para outras colônias, outras propriedades rurais, outras localidades.
As motivações dessas escolhas de ficar, sair, mudar, foram certamente culturais, além de socioeconômicas. Ou seja, na Alemanha, esses PIONEIROS da leva de 1847 (a nossa!) eram todos mais ou menos vizinhos, provindo de vilarejos ou aldeias como Wolfsheim, Bubenheim, Udenheim, Saulheim, e outras, situadas ao redor das cidades de Mainz, Bingen, Worms, Germersheim, Algesheim, na região do Pfalz; mas também na região vizinha do Hesse, como a vila de Biblis e as cidades de Dortmund e Darmstadt. Ou seja, as 2 regiões citadas na Alemanha ocidental, mais para o lado da Holanda. [Uma nota: ainda não achei originários da região do Holstein, nessa leva PIONEIRA. Como os recrutadores juntaram c. de 400 pessoas do Pfalz e só 29 do Holstein? Atualmente estou achando que estes, por qualquer razão, pegaram “carona” com o grupo do Pfalz, porque a) ambas são regiões em pontos extremos da Alemanha, com o porto de Hamburgo mais ou menos no meio do caminho [a distância entre Hamburgo e Kiehl cidade do Holstein é c. 90 km], e sobretudo porque b) o número de emigrantes é muito dispare, 400 X 29 pessoas. Se fruto de propaganda do agente de Vergueiro, a “colheita” no Holstein foi muito mirrada! Aliás, depois de saber que o avô de Thomas Mann (e pai de sua mãe, a brasileira Júlia Bruhns-Mann), originário da cidade de Lübeck, o mais importate porto do Holstein, estava rondando pelo interior da província de São Paulo c. 1845, fazendo negócios com altas figuras da sociedade paulista da época, fiquei pensando se não haveria dedo dele [e para ele??] na vinda do grupinho do Holstein… A ver!]
Quero dizer, houve uma saída conjunta de habitantes de uma determinada região da Alemanha que decidem emigrar coletivamente, numa atitude de grupo: assim, além de garantir a sobrevivência pelas atividades produtivas propiciadas pela cultura do café, talvez fossem os laços imateriais (suporte, apoio, solidariedade, afetividade, familiaridade) o que os emigrados procuravam prolongar aqui em SP por meio de suas práticas de vizinhaça e alianças matrimoniais. Isso ajuda a explicar porque os PARCEIROS de IBICABA além de se casarem entre si, prolongando os laços familiares e do local de origem, foram também se fixando ao redor da antiga colônia, como vizinhos, fosse nos distritos rurais fosse nos núcleos urbanos, formando no início da segunda metade do século XIX uma espécie de cinturão auto protetor de imigrantes de língua e cultura alemã, mas que viria a se tornar também um dinamizador muito importante da história paulista.
Conseguimos localizar alguns deles fazendo essa movimentação pelas cercanias de Ibicaba por meio de: consultas pontuais na internet, dos numerosíssimos documentos do familysearch.org que consultei sistematicamente, das informações dos pesquisadores e sites já referidos e também ao folhear uns poucos Almanaques da época que estavam acessíveis por ocasião da realização deste trabalho (foram eles: “Almanaque PSP de Luné e Paulo D. da Fonseca para 1873”; “Almanaque de São João do Rio Claro para 1873”, de T. C. de Molina; “Almanach Administrativo, Commercial e Industrial da PSP para o ano bissexto de 1884”; “Almanaque da PSP para 1888”, de Jorge Seckler; “Almanaque de RCL para 1895”, de Cândido Neves):
RIO CLARO
Nossos antepassados Pioneiros seguiram a maioria e se mudaram para Rio Claro, ajudando a fazer dessa cidade a maior em número de imigrantes-colonos alemães e suíços e seus descendentes:
–João Hülsdorff/Helsdorf/Hilsdorf, filho de Martin Hilsdorf. Pioneiro em Ibicaba em 1847, quando veio com o pai Martin Hilsdorf. Em 1858 é citado no Documento 3 desse ano como tendo saído da colônia com dinheiro e “é proprietário”, talvez em RCL, talvez em Piracicaba, como o pai. Em 1872/73 era fazendeiro de café e lavrador de algodão em Rio Claro, onde tinha propriedades na cidade, nas ruas de São Joaquim e Formosa. Em 1888 aparece como lavrador de algodão e fazendeiro de café, um dos proprietários de parte das terras da antiga fazenda “Angélica”. Em 26-1-1889 é declarante da morte do cunhado Conrado Witzel para efeito de Atestado de Óbito. Em 1895 ainda aparece como lavrador. O ano de 1897 marca o seu falecimento na casa do filho Jorge Hilsdorf, em Leme. Não temos relatos a respeito, mas ao que parece foi morte repentina, durante uma visita.
–Jorge Hilsdorf, filho de Martin Hilsdorf e irmão de João Hilsdorf. Nenhum indício de que tenha sido Pioneiro de Ibicaba, mas está em RCL em 1873, 1888, 1895, 1921. Em 1873 é citado como caldeireiro e funileiro em sua propriedade na rua Formosa. Em 1895 é proprietário de “cocheiras de receber a trato” (aluguel). O ano de 1921 marca seu falecimento em RCL.
–Martin Hümmel. Pioneiro em Ibicaba em 1847. Arrolado em lista de 1850 com mulher e 4 filhos. Ainda estava na colônia em 1858. Em RCL em 1866, 1872, 1874, 1887. Consultando os livros de registro das reuniões do Cemitério Alemão, depois de 1870 assumido como Cemitério Evangélico da cidade, dos anos 1862-82 e 1866-75 (conservados no APHRCL), aparecem nas reuniões os nomes nossos conhecidos de Carlos Thim, João Vollet, João Capretz, Guilherme Lebeis (em 1863); Jacob Witzel (em 1865); Carlos Zoéga (em 1870), para citar alguns exemplos; e na reunião de 27-1-1866, que exibe uma “Verzeichniss der Geber von Bestragen/Relação de doadores”, os de MARTIN HUMMEL (provavelmente o pai, idoso, mas ainda ativo), Ulbrich Krättly, João Krättly, Nicolas Kuns, João Lebeis, Guilherme Lebeis Jr, Jacob Witzel, e outros, ou seja, os antigos Pioneiros de Ibicaba, muitos aparentados pelos casamentos que tinham acontecido entre seus familiares da segunda geração, e mostrando mais uma vez o companheirismo dos outros tempos: o critério da solidariedade é evidente, uma vez que muitos deles eram católicos…. Nas demais reuniões anteriores e posteriores a essa, não há, porém, registro da presença dos Hümmel. Em 1874, Martin Hümmel tinha propriedades na rua Formosa: “armazém e taverna”. O ano de 1887 é data de seu falecimento. Em RCL, em 1888, existia a selaria Martinho Hümmel & Filho, mas apesar do nome, como o pai já havia falecido, o negócio era tocado pelo filho Martinho Hümmel.
–Suzana Dersthat/Deresthadt Hümmel. Pioneira em Ibicaba em 1847, casada com Martin Hümmel e mãe em 1850 de 4 crianças Pioneiras, uma das quais identificada como Martinho Hümmel (Filho). Estava ainda na colônia em 1858. Em RCL em 1889, ano de seu falecimento, já viúva, na casa do filho Martinho, com quem vivia.
–Martinho Hümmel (Filho), filho de Martin e Suzana: Pioneiro em Ibicaba em 1847, e acompanhando os pais, estaria ainda na colônia em 1850 e 1858. Em RCL seguramente em 1871, 1872, 1873, 1888, 1891, 1895, 1897, 1903, 1904. Uma lista de alemães moradores no núcleo urbano de Rio Claro, no Bairro dos Alemães, inclui entre eles como residente (na atual rua 6-A), Martin Hümmel, proveniente de Maecklemburg, com sua mulher Maria (suíça) e a filha Catharina. Sem indicação da data de sua confecção, a lista não ajuda muito, mas pelo exposto acima posso pensar que referia Martinho Hummel (Filho), com sua mulher Maria [Madalena Wolf] e a filha Catharina, ainda solteira. 1891 é a data do casamento desta filha, aos 20 anos incompletos, com João Adolfo Löbbe, de c. 23, lavrador na vizinha cidade de São Carlos (tenho o Atestado de Casamento). O ano de 1897 se refere ao nascimento de filho desse casal (Antonio Adolfo Löbbe, falecido em São Carlos, em 17-10-1964), na casa do avô paterno, Martin, identificada como Rua 4, no. 71 (tenho o Atestado de Nascimento). Em 1872 era proprietário de sapataria na rua Formosa, em 1873, proprietário de armazém de molhados + louças na rua Formosa e de prédios nas ruas Formosa e do Riachuelo, e o mesmo em 1884; proprietário de selaria em 1888; e em 1895 dono de selaria na Rua 4, dono de restaurante, e ajudante do chefe de estação da Estrada de Ferro Cia Paulista. Em 1903, encaminhou petição às autoridades municipais (tenho cópia), e em 1904 era subdelegado em Rio Claro (Informação da Berna).
–Maria Madalena Wolf, casada com Martinho Hümmel (Filho). Nenhum Wolf é Pioneiro de Ibicaba, vieram em levas de suíços desde 1852. Citada em RCL, em 1891, data do casamento da filha Catharina, quando os pais já moravam à rua 4, sem indicação de número. Outra filha do casal Magdalena e Martinho já havia se casado, em 1888, com um neto de Martin Hilsdorf, respectivamente Christina e Jorge, nossos avós paternos.
–João Wolf: pai de Magdalena Wolf e patriarca de numerosa família. Em RCL em 1872: nesta data tinha armazém de louças e molhados à rua do Comércio, juntamente com o filho José Wolf.
–João Adolpho Löbbe. Não era Pioneiro nem de RCL. Nasceu em Hamburgo em c. 1868, filho de Henrique Löbbe e Thereza ? Löbbe. Citado em RCL em 1891 e 1897, em função de eventos familiares: respectivamente por ocasião do casamento com Catharina Hümmel, filha de Martinho Hummel (Filho) e Madalena Wolf, sendo morador em S. Carlos; e por ocasião do nascimento do filho Antonio Adolpho, na casa do sogro, sendo morador em Jaboticabal.
–Adão Witzel: veio com mulher e filhos na leva Pioneira de 1847, e permanecia na colônia, já viúvo, em 1850, mas não em 1858: segundo o Documento 3, deste ano, “saiu e comprou uma chácara”, provavelmente em Rio Claro.
–Conrado Witzel e Catharina Hilsdorf: Pioneiros em Ibicaba em 1847, acompanhando os pais, respectivamente Adão Witzel e Martin Hilsdorf. Estão em RCL em 1852, 1882 e 1889. A data 1852 localiza o casal na zona rural: na colônia de parceria “Bery/Biri”, onde ele era diretor e ela colona, com os filhos Madalena e João. O ano 1882 refere o falecimento dela, e 1889, o dele.
–João Witzel, nasceu em Ibicaba, filho dos Pioneiros Conrado Witzel e Catharina Hilsdorf, e neto dos Pioneiros Martin Hilsdorf e Adão Witzel. Em 1852 é uma criança pequena acompanhando os pais na colônia “Bery/Biri”. Em 1887 é testemunha em RCL do registro de óbito em 31-7 de Martin Hümmel, patriarca dos parentes Hümmel. Em 1895, João Witzel aparece como dono de quitanda de frutas em RCL.
–Jacob Witzel, irmão de Conrado Witzel e cunhado de Catharina Hilsdorf. Pioneiro de Ibicaba, pois veio na viagem de 1846-47. Citado em RCL em 1872, 1888, 1895. Em 1872 tinha propriedade na rua Direita com armazém de secos e molhados, louças etc e alugava carros para passeios e viagens (trolys). Tinha também cocheiras e carroceiros. Em 1888 era fabricantes de carroças e trolys e mantinha carros para alugar. Em 1895 continuava no ramo: é dono de carros de praça + cocheiras de receber a trato [aluguel], mas “não alugava para vacas”.
–Conrado Witzel Pinto: filho de Jacob Witzel e sua mulher Esméria Pinto e sobrinho de Conrado Witzel e Catharina Hilsdorf Witzel: em RCL em 1895, onde aparece como dono de cocheiras e do serviço funerário.
–Jorge Witzel: em RCL em 1888. Era funileiro. Embora assim descrito, não conseguimos identificá-lo dentre os Witzel localizados.
–Adão Hebling: tem passagem por Ibicaba em meados dos anos 1850, mas não é da leva Pioneira de 47. Em RCL em 1873 e 1885. Tem olaria na rua Santa Cruz (subúrbio) e alugava carros para passeios e viagens (trolys). Ele, os pais Justino/Judokus/Jost e Anna Kunz e o irmão caçula George Hebling moravam em RCL, com suas respectivas famílias. Seus irmãos Valentim, Konrad e Felipe José moravam em Piracicaba. 1885 é ano de seu falecimento.
–Wilhelm/Guilherme Lebeis. Pioneiro em Ibicaba em 1847. Está na colônia em 1850, com mulher e 5 filhos, mas por hipótese não na lista de 1858, pois nesta, além de nomeado como Guilherme Sebus (uma confusão comum com o nome dele), é vagamente apontado como: “é proprietário”. Aparece em RCL em 1873, como proprietário na rua da Boa Vista, não sabemos se de um negócio ou da famosa chácara onde residia.
–Guilherme Lebeis Júnior, filho de Guilherme Lebeis. Pioneiro em Ibicaba em 1847, pois chegou à colônia ainda criança, na primeira leva, com c 10 anos de idade, acompanhando o pai e outros irmãos.. Em RCL em 1872-73, onde tinha o “Hotel d’ Oeste”, recém-instalado à rua Municipal, no. 15, com quartos, cocheiras e confeitaria. Na parte de cima do sobrado ficava o hotel, dirigido por Guilherme e Pedro Alexandre Lebeis. Na parte de baixo funcionava o “Grande Armazém d’ Oeste”, deles também. Em 1873, o hotel tinha novo endereço: na Rua Formosa cruzamento com a rua Aurora. Nesse ano também aparecem como proprietários na rua Formosa os sucessores de Guilherme Lebeis Júnior e a viúva de João Lebeis, um dos seus irmãos. Guilherme Lebeis Júnior tornou-se um famoso capitalista em SP, proprietário do “Hotel de França” (o antigo “Hotel Itália” da família Maragliano), “instalado nos Quatro Cantos = cruzamento da rua Direita com rua São Bento, ou melhor na rua Direita ao lado da Igreja de Santo Antonio (esta preservada até hoje na atual Praça do Patriarca). O sobrado do Hotel antes dos Maragliano pertenceu ao brigadeiro Jordão, e segundo o descendente Paulo Lebeis Bonfim, nele se hospedou D. Pedro na noite de 7 de setembro de 1822, quando chegou a SP, depois do “Grito do Ipiranga”.
–Wilhelm/Guilherme Hümmel. Pioneiro em Ibicaba, arrolado nas listas de 1847 e 1850, nesta com mulher e 8 filhos, todos Pioneiro, saiu da colônia antes de 1858. Em RCL, em 1872, era tanoeiro na Rua Santa Cruz. Está em Pirassununga em 1890, onde moravam alguns de seus filhos (mas não temos certeza desta informação, pois pode ter havido confusão com o filho de mesmo nome e mesma profissão).
–Guilherme Hummel Filho. Em RCL em 1884, 1888. Era tanoeiro na cidade, provavelmente assumindo o negócio do pai Guilherme Hummel (mas não temos certeza desta informação, pois pode ter havido confusão com o pai, de mesmo nome e mesma profissão).
–Sebastião von Atzingen: genro de Guilherme Hümmel e cunhado de Guilherme Hümmel Filho. Em RCL em 1872, 1873, 1888, 1895. Era de Alpnach (cantão de Obwald), na Suíça, e veio em 1852 (não era Pioneiro de Ibicaba). Em 1872 tem propriedades na rua do Comércio, onde trabalha com ferraria; em 1873 tem seu estabelecimento na rua Direita, em 1895 idem na Avenida 3, faceando o Jardim Público.
–João Krättly/Krattlï/Krattlis]: os Krättly eram suíços de língua alemã. João, Jacob e outros chegaram com as famílias em meados dos anos 1850. Foram diretamente para a zona rural de RCL e depois para a cidade, onde, em 1872-73, João tinha sapataria na rua Aurora. Genro de Martin Hümmel que também trabalhava com couro..
–Jacob Vollet, Pioneiro de Ibicaba, citado nas relações de 1847 e 1850, nesta “com Mulher e 6 filhos, de profissão açougueiro”. Assumi que ele é o pai citado em 1858 como falecido e tendo deixado haveres para os filhos, um dos quais o João Vollet abaixo.
–João Wollet [Vollet]. Originário de Fürfeld, no Pfalz-Renânia, Pioneiro de Ibicaba da leva de 1847, a quem reconhecemos por hipótese como uma das crianças de Jacob Vollet, acima. Acompanha o pai nas menções de presença/ausência nas listas de Ibicaba. Entre 1852-67 foi colono em “São Lourenço”, em Piracicaba, acompanhado da mulher Elisabeth/Isabel e das filhas Gertrudes, Catharina, Bárbara e Maria, mas estes nomes não foram corroborados pelas fontes. Em 1872-1873 está em RCl, citado pelo “Almanaque” do Molina como fazendeiro de café e lavrador de algodão. É o único dessa fonte que não é identificado pelo seu endereço! Dois de seus filhos o acompanham: Jacob Wollet, com alfaiataria na rua Aurora, e Felipe Wollet, com armazém de louças e molhados na rua São Benedito.
–George/Jorge Hellmeister e Henrique Hellmeister vieram com suas famílias Pioneiras em 1847. Em 1858 já tinham deixado a colônia. Em RCL em 1872, Jorge era alfaiate e tinha carros de aluguel + armazém de louças e molhados às ruas Alegre e Aurora. Henrique também não é citado na lista de 1858, mas não sabemos seu destino. O filho deste, Valentim, continuou com o nome ligado à Limeira, pois os seus filhos foram batizados na paróquia local até fins dos anos 1860, embora não fique esclarecido se o motivo era porque trabalhavam ainda em Ibicaba ou moravam por conta na própria vila.
–Mathias Pott. Não era Pioneiro, pois sua família veio em leva de 1854. Localizado em RCL em 1872 e 1885. Em 1872 tinha carros para alugar (no subúrbio); e em 1885 foi testemunha do AO de Adão Hebling.
–Francisco Bruchhäuser/Bruckhauser. Marido de uma das filhas de Guilherme Hümmel. Em 1888, em RCL, tinha carros para alugar.
–Jorge Meyer: RCL recebeu grande parte da família Meyer, que não foi Pioneira, mas está nas listas de Ibicaba de 1850 e 1858, representada pela presença do colono Jorge Meyer. Depoi fincaram raízes em Rio Claro, onde João Jacob Mayer é citado em 1872 e 1888: em 72 era proprietário na rua Aurora; em 1882 era fabricante de carroças e trolys.
–João José Arnold. Provavelmente o Pioneiro de Ibicaba nomeado “Arnolt” nas listas de 1847 e 1850, já tinha saído da colônia em 1858. Em RC em 1888, aparece como fabricante de carroças e trolys.
–Mathias Hartmann: não sabemos se era o Pioneiro “Hartmann” das listas de Ibicaba, pois na de 1858 se diz que era proprietário de alfaiataria. Mas seguramente em 1872 está em RCL, onde tinha carros para alugar.
–Guilherme Zoéga: em RCl em 1888, onde tinha padaria. Chegou com familiares em 1871, portanto não era Pioneiro, mas se casou na família Vollet, emigrada em 1847. Depois do falecimento da primeira esposa, Catharina Diehl Vollet, casou-se novamente e mudou para Pirassununga.
–Martinho Schmidt e Jacob Schmidt = ambos eram Pioneiros de 1847, mas Martinho, já idoso, faleceu logo depois da chegada e quem aparece na lista de colonos de Ibicaba de 1850 é sua viúva, Bárbara. Seus dois filhos, também Pioneiros, só aparecem em 1858, mas como “ausentes”, ou seja, já tinham saído, pois receberam a seguinte menção no Documento 3: “um filho é diretor da colônia S. Lourenço [de Piracicaba] e o outro está estabelecido na vila de Limeira”. Jacob, por seu lado, permaneceu na colônia, mas em 1858 se diz na lista que “saiu e era proprietário”, mas não onde; depois não é mais citado.
–Nicolau e João Heinz/Hainz: presumivelmente irmãos Pioneiros em Ibicaba, as últimas datas que temos para eles são de 1858, dizendo que já tinham deixado a colônia. Descendentes deles se casaram com membros das famílias Hümmel e Lebeis, em RCL.
–Anton Exell. Este Pioneiro estava em Ibicaba com sua mulher ainda em 1850, mas não em 1858, e parece que circulou entre Rio Claro e Campinas, segundo mostra o acompanhamento de sua descendência.
–Francisco Rigo e Felipe Rigo. Espanhóis, não sabemos se eram irmãos, mas estão em Ibicaba desde 1847, senão desde 1840, como integrantes da leva de portugueses deste ano; mas em 1858, Francisco já saíra “com saldo e comprou um sítio”, não sabemos onde, e Felippe “acha-se na colônia e tem haveres”. O caso de Felipe lembra o de Valentim Hellmeister: casou-se com uma das moças dos Vollet, Christina, e seus filhos nascidos até 1859 foram batizados em Limeira, mas não sabemos se isso significa que ainda trabalhavam na colônia ou estavam estabelecidos na cidade. De qualquer modo, os Vollet-Rigo acabaram por se fixar em RCL, com numerosa descendência.
–André Portz: Pioneiro de Ibicaba, já estava fora da colônia em 1858, contratado como colono de “São Lourenço” entre 1853-1860, de onde saiu para Rio Claro.
–Valentim Rauenheimer, Miguel Emerich e Andréas Sax/Schs, George Gebhardt: todos Pioneiros de Ibicaba, já estavam fora da colônia em 1858, em datas variáveis, com passagem por Piracicaba, na “São Lourenço”, mas vamos encontrá-los em RCL desde meados dos anos 1860, a partir de evidências indiretas: registro de falecimento, casamentos e batizados de familiares e afilhados.
Abaixo, o prédio da padaria “Germânia”, de propriedade de Carlos Fischer, em Rio Claro. Construído no final do XIX, na esquina da Rua 4 com Av. 8, em cruz com o prédio do hotel da família Stein, na outra calçada (conheci e frequentei os 2 estabelecimentos, ainda intactos, no início da década de 1960). A foto (de ?) e o desenho de Percy (1967) foram reproduzidos de material impresso do APHRCL:
A seguir, um diagrama com as ruas centrais de Rio Claro, antes da chegada dos imigrantes, lembrando que:
Rua do Comércio = atual av.1
Rua Municipal = atual av. 2
Rua Aurora = atual av. 4
Rua de São João = atual rua 6
Enfim, dados do ALMANAQUE DE T. A. MOLINA PARA 1873 (edição de 1872), que citam os imigrantes alemães estabelecidos em Rio Claro segundo categorias, digamos, sócio profissionais, as quais rearranjei a partir das ruas a que seus nomes foram vinculados (não fica claro se referem o local de morada, do negócio ou de propriedades de uso de terceiros), lembrando que as ruas em 1872/73 eram;
Comércio;
Boa Vista;
São João (antiga Direita);
da Cadeia (antiga Formigas);
Municipal (antiga das Flores);
da Aurora (antiga do Campo);
de Santa Cruz (antiga rua Nova);
Direita e Alegre (antigas rua da Matriz).
LARGO DA CADEIA = ANTONIO ALLEMÃO, prof de música na Orquestra do Rio Claro (tinha também o grupo Musica da Santa Cruz!!);
RUA DA CADEIA = JOÂO HENRIQUE REIFF, capitalista, proprietário, ferrador, fábrica de máquinas, fundidor de ferro e bronze, maquinista; ESTEVÂO HEILL, proprietário, alfaiate; JOÂO KRATTLI, proprietário, Jogo de bolas; KRATTLI pai, proprietário; ULISSES KRATLY, pedreiro e mestre de obras, armazém de molhados, louças etc; HENRIQUE ALLEMÂO, pedreiro e mestre de obras;
RUA FORMOSA = JOÂO HELSDORF, proprietário, fazendeiro [de café], lavrador de algodão; JORGE HELSDORF, proprietário, caldeireiro, funileiro; MARTINHO HUMEL PAI, proprietário; MARTINHO HUMEL, proprietário, armazém de molhados, louças etc, sapateiro; viúva DE JOÂO LEBEIS, proprietário; SUCESSORES DE GUILHERME LEBEIS JÚNIOR, proprietário; ROSA LEBEIS, armazém de molhados, louças etc; JOÂO BLUMER, pintor, vidraceiro; GUILHERME PLATT, loja de fazendas, loja de ferragens;
RUA DAS FLORES = Herdeiros de JOÂO HERPERT, proprietário; JOÂO HUPPERT, jogos de bola, armazém de molhados, louças etc; FRANCISCO BACHKEUSER, armazém de molhados, louças etc;
RUA DA BOA VISTA = GUILHERME LEBEIS, proprietário; JORGE PETRI, proprietário, ferrador; MATHIAS HARTMAN, proprietário, linha de trolys; Dr. JOÂO HENRIQUE GATTIKER, proprietário;
RUA DE SANTA CRUZ = JORGE PETRI, proprietário; FRANCISCO CAETANO DA ROSA, proprietário;
RUA DO COMÉRCIO = Dr. JOÂO HENRIQUE GATTIKER, proprietário, médico, casa de saúde; JOSÉ WOLF, proprietário; JOÂO WOLF, armazém de molhados, louças etc; JORGE SCHMIDT, proprietário; SEBASTIÂO VONALTZINGER, proprietário;
RUA DIREITA = FRANCISCO CAETANO DA ROSA, proprietário; JACOB WITZEL, proprietário, aluguel de carros e carroças, armazém de molhados e louças, carroceiro, cocheiras para alugar, linhas de trolys; ANDRÉ PINTO DE SAMPAIO, açougue; JOÂO PETRI, fundidor de ferro e bronze, maquinista; SEBASTIÂO VONALTZINGER, ferreiro;
RUA ALEGRE = JORGE PETRI, proprietário, fábrica de máquinas; JORGE HELMEISTER, proprietário, armazém de molhados, louças etc, aluguel de carros, linhas de trolys;
RUA MUNICIPAL = GUILHERME LEBEIS, proprietário; JOÂO JACOB MEYER/MAYER ALLEMÂO, proprietário, fábrica de troleys; HENRIQUE SCHMIDT, proprietário, padaria;
RUA DE SANTA CRUZ = GUILHERRME HUMEL, tanoeiro; ADÂO HEBLING, olaria, linhas de trolys; MATHIAS HARTMANN, aluguel de cocheiras, aluguel de carros, linhas de trolys;
RUA DA AURORA (seria a atual Av. 4) = JOÂO MEYER, proprietário; JACOB VOLLET, proprietário, alfaiate; JOÂO KRATTLY, proprietário, sapateiro; JORGE HELMEISTER, proprietário;
RUA 7 DE SETEMBRO = JOÂO HUPPERT, proprietário;
RUA DO RIACHUELO = HENRIQUE REIF, proprietário; MARTINHO HUMEL, proprietário;
RUA DE SÂO JOAQUIM = JOÂO HELSDORF, proprietário; SUCESSORES DE GUILHERME LEBEIS JÚNIOR, proprietário;
RUA DE SÂO JOÂO = FRANCISCO CAETANO DA ROSA, armazém de molhados, louças etc;
RUA DE SÂO BENEDITO = FELIPE WOLLET, armazém de molhados, louças etc;
SUBÚRBIO = JOÂO PETT, deve ser POTT, carroceiro, carroças para alugar, linha de trolys; MATHIAS POTT, aluguel de carros; ADÂO HEBLING, aluguel de carros;
HOTEL D’ ÓESTE = GUILHERME LEBEIS JÚNIOR, cocheiras para alugar, confeitaria;
Sem endereço = JOÃO WOLLET/VOLLET, fazendeiro de café e lavrador de algodão.
PIRASSUNUNGA
No site gomessilva2 achei a informação de que PIRASSUNUNGA se tornou a 5ª. cidade em número de imigrantes colonos alemães e suíços, o que é bem pouco reconhecido, pois encontramos pouca informação nesse sentido. Os bairros rurais Landgraf, Botafogo e Cachoeirinha (este na atual estrada Pirassununga-Analândia) eram redutos de imigrantes de língua e cultura alemã. Muitos nomes se repetem em Rio Claro e Piracicaba e depois em Pirassununga, atraídos talvez pela marcha do café para o Oeste (e do progresso da cidade). Relato familiar diz que os Hilsdorf foram para Rio Claro e Pirassununga e só depois se mudaram para Leme. Quem foi? Quando isso se deu? Pode ser que falem em Pirassununga porque Leme pertencia administrativamente a ela, e neste caso, o correto seria dizer: foram para Rio Claro e Leme, esta ainda pertencente a Pirassununga e por isso arrolados sob o nome desta cidade. Ainda a esclarecer. Ligados a Pirassununga encontramos:
–Jorge Hilsdorf: em 1885. Seria o Jorge irmão de João Hilsdorf, ou o filho deste, Jorge Hilsdorf (meu avô), ainda solteiro, com c. 26 anos? Este, mais provavelmente, concordando com uma versão familiar de que membros da família Hilsdorf teriam morado em Pirassununga, antes de se estabelecerem em Leme.
—Conrado Hebling e Maria Keller: em Pirassununga, s.d. Filho e nora do casal Yzabel Hilsdorf e Konrad Hebling, residentes em Piracicaba, mas a família Keller morava em Pirassununga. Conrado e Maria circularam pela região, morando sucessivamente em Piracicaba, Pirassununga, Piracicaba e São Carlos.
–Eduardo Keller e Izabel Witzel, em 1892, 1894 e 1896. São datas do nascimento dos filhos do casal, respectivamente Maria Clara, Margarida e José. Seriam os pais e irmãos da Maria Keller, referida acima, nascida em 1878 (mas em Botucatu).
–José Lebeis, Pioneiro em IBICABA em 1847, acompanhando o pai, Guilherme Lebeis. Casado em 1849 com Catharina Himian, também Pioneira. Estiveram em Ibicaba pelo menos até 1863, quando batizaram um filho. Em Pirassununga citados em 1877, onde era agente funerário.
–João Hümmel: da família Guilherme Hümmel. Em 1868 foi testemunha de casamento; e em 1884 é citado como tanoeiro e dono de armazém de secos e molhados.
–João Batista Hümmel: em Pirassununga, s.d. Tinha selaria. Seria o mesmo João Hümmel anterior?
–Godofredo Hümmel: Localizado em Pirassununga em 1869, e em São Carlos do Pinhal, em 1884. Era serralheiro. Filho de Sebastião von Atzingen e Catharina Hümmel, moradores em Rio Claro, e neto de Guilherme Hümmel, Pioneiro de Ibicaba que teria se mudando para Rio Claro e depois para Pirassununga.
–Francisco von Atzingen e Sophia Levy: em Pirassununga, 1892, outro filho e nora de Sebastião von Atzingen e Catharina Hümmel.
–Luiz von Atzingen: em Pirassununga, s.d.; era carpinteiro. Talvez familiar do casal Von Atzingen-Levy, mas ainda não foi identificado.
–Guilherme Zöega e sua mulher Catharina Boller, localizados em Pirassununga em 1897, onde tinha confeitaria. Trata-se da sua segunda esposa, depois do falecimento de Catharina Diehl (1856-1897), com quem constituíra família e morara em Rio Claro. Seu grupo familiar era conhecido pela profissão: padeiros-confeiteiros.
—Otto Zöega, s.d. Confeiteiro, citado como irmão de Guilherme Zöega, mas informação incorreta, pois trata-se de seu filho do primeiro casamento, nascido em 1879 em RCL e falecido em Pirassununga, em 1940. Acompanhara o pai, vindo de mudança de Rio Claro.
–Augusto Sundfeld: em Pirassununga 1865, 1866. Filho de Anton Sundfeld. Casado com Suzana?, e pais de 7 filhos. 1865 é data de chegada da família; em 1866 estava estabelecido com casa de ferragens. Temos também informações sobre seus filhos, a seguir.
–Joanne Catarina Henriquetta Sundfeld: em Pirassununga 1865, 1868. Nascida em Hamburgo, 1845, e + em Pirassununga em 1909. Luterana, casamento misto com dispensa do bispo com Bento Dix, católico, em 11-7-1868 na matriz de Pirassununga; certidão passada em 19-10-1868, sendo testemunhas Jacob Vollet e João Hümmel [quem transcreveu grafou improváveis Jacob Solote e João Hummik para eles…]. Pais de 8 filhos.
— Conrado Karl Fr. Sunfeld. Nascido em Hamburgo (?), e + em Pirassununga (?); Outro filho de Augusto e Suzana, irmão de Joanne, referido em Pirassununga em 1865 e 1877. Casado com Escolástica Lebeis, com 8 filhos, um dos quais é Augusto, c/c Natália Hilsdorf (*1900-+15-2-1941).
–Guilherme Karl Fr. Sundfeld: em Pirassununga, 1865. Natural de Hamburgo, 1847, e + em Pirassununga, 1895, casado com Carolina Mathiessen, com 8 filhos.
–Germano Karl Fr. Sundfeld: em Pirassununga, 1865 e 1876 (sem especificação). Natural de Hamburgo, e + em Pirassununga.
–Michel Petry, João Dopp, João Waygand e Frederico Krieger: foram colonos em “São Lourenço”, em Piracicaba, respectivamente entre 1856-67, 1852-69, 1852-67 e 1855-67 e apontados pelo proprietário como tendo “saído para Pirassununga”.
Abaixo, retratos dos casais Joanna Sundfeld-Bento Dix e Guilherme Sundfeld-Carolina Mathiessen, retirados do site dos Sundfeld na internet:
PIRACICABA
O caso da mudança de Ibicaba para PIRACICABA foi estudado pelo pesquisador Argolo Ferrão, mas ele enfoca sobretudo os imigrantes suíços de língua alemã. Estes teriam vindos num grupo de c. 200 pessoas, lideradas por Phellip Diehl (e seus 6 filhos), e embarcadas em Roterdã em 1849 em direção a Ibicaba. Para mim, parece mais uma daquelas levas independente, pois não são citados nas primeiras listagens de colonos divulgadas. Mas Ferrão pode ter sua razão, pois conhece bem a história posterior deles porque usou diários de membros do grupo. A maior parte tinha haveres e saiu de Ibicaba em 1853, indenizando Vergueiro e se instalando nas imediações: Piracicaba, RC e Limeira. Em Piracicaba os Diehl, Kräenbuhl, Fisher, Vollet, Heise foram grandes empreendedores, trabalhando com construção, ferraria, olaria, marcenaria, implementos e maquinário agrícola, e empregando outros colonos e seus descendentes. Se a data 1849 está correta será que foi a vinda deles que inspirou a campanha pró-emigração dos suíços iniciada pelo cônsul Gentil-Perret? Antes dos suíços, porém, tinham chegado os alemães, que também procuraram Piracicaba.
Suíços:
–Pedro Krähenbuhl: passou por “São Lourenço”, entre 1854 e 1868; depois se mudou para a cidade vizinha, Piracicaba.
–Martin Fischer, um dos Pioneiros de Ibicaba, filho de Pioneiro do mesmo nome. Não aparece na lista de 1850, o que sugere que já havia deixado a colônia para morar em Piracicaba, onde aparece com certeza em 1851, data de seu casamento com Maria Magdalena (*1832- +14-2-1913), uma das filhas de Martin Hilsdorf. Também na cidade em 1873 e 1893. 1873 indica propriedade de uma olaria; em 1893, documentado como morador do Bairro dos Alemães, juntamente com outros Fischer, seus familiares: José, Felipe, Jorge e Carlos.
–Jakob Fischer: natural do cantão de Argau, na Suíça. Identificado na zona rural de Piracicaba, ou seja, na colônia de parceria “São Lourenço”, sem data. Segundo informação do site gomessilva.2 teria desembarcado sozinho em Santos, em 12-6-1854. Será que veio direto para Piracicaba onde já moravam e trabalhavam seus parentes?
–Jacob Diehl: provavelmente é o Diehl anônimo citado como morador em 1893 do Bairro dos Alemães, em Piracicaba. Suas irmãs se casaram com outros suíços do grupo, como Margarida, casada com Hugo Heise.
–? Schmidt: em Piracicaba 1893, documentado como morador do Bairro dos Alemães. Mas qual deles? Atualmente, depois de ter recebido as contribuições do descendente prof. Luiz Augusto Schmidt Totti, penso que esse Schmidt anônimo poderia se referir a Jorge Henrique Schmidt (filho do antigo administrador da colônia de Ibicaba nos anos 1850, também chamado Henrique, provavelmente suíço), mas que foi criado em Piracicaba e ai constituiu família nos anos 1880.
Alemães:
–João Hains e Elizabetha: casal de colonos de parceria em “São Lourenço”, sem data.
–João Vollet, a mulher Elizabetha/Isabel e as filhas Gertrudes, Catharina, Maria e Bárbara: naturais de Fürfeld (na Renânia, Alemanha), identificados na zona rural de Piracicaba, ou seja, na colônia de parceria “São Lourenço”, entre 1852-1867, provavelmente vindos de Ibicaba, onde foram Pioneiros em 1847. Depois, encontramos os pais em RCL, mas as filhas acima se casaram e fixaram residência com suas famílias em Piracicaba (lembrando que estes nomes são de figuras reais, mas tenho dúvidas sobre serem todas filhas de João e Isabel).
–Adam Frey: identificado na colônia de parceria São Lourenço em 1867, quando “chegou”, isto é, foi contratado com esposa e 5 filhos. Ele tinha 42 anos e era natural do Grão-ducado de Baden, na Alemanha. Uma alternativa para nossa leitura é que ele veio/viajou na leva de 1867.
–Pedro Frey: na zona rural de Piracicaba, isto é, na colônia de parceria São Lourenço, em 1867, quando “chegou”, ou seja, foi contratado com esposa e 4 filhos. Ele tinha 54 anos e era natural da Baviera, Alemanha. Considerando os dados de Adam Frey, acima, poderiam ser irmãos e terem vindo/viajado em 1867, mas minha opção é pela primeira interpretação: foram contratados juntos nesse ano. Meu argumento hipotético, pensado a partir da sua idade mais contexto familiar é que Pedro é o Peter Frey da leva Pioneira de Ibicaba, que em 1858 era diretor da colonia “7 Quedas”, de J. B. do Amaral, em Campinas, e em 1867 foi contratado para “S. Lourenço”, lugar de seu interesse, onde tinha parentes próximos morando (os Frey, Jonas e Hilsdorf).
–João Höfling: na zona rural de Piracicaba, isto é, colono de parceria em “São Lourenço”, em 1867, quando chegou com esposa e 4 filhos. Ele tinha 27 anos e era natural da Baviera, Alemanha. Anos depois, encontramos os Höfling vivendo em RCL.
–Bento Vollet: de família Pioneira em 1847, nasceu provavelmente em 1851 em Ibicaba, filho do João Vollet acima, mas viveu em Piracicaba, onde fez casamento na família Diehl (de origem suíça, daí ser identificado também como suíço, mas não procede). Conquistou alta posição no grupo dos imigrantes alemães, suíços de língua alemã e francesa e outras origens, radicados na cidade, pois tem o maior número de apadrinhamentos em batismos e casamentos que encontrei ao longo de toda a pesquisa, extrapolando de muito os âmbitos familiares. Aparece em Piracicaba, em 1888, como proprietário do cortume “Indústria Brasileira” e de loja de secos e molhados; e em 1893 é documentado como morador do Bairro dos Alemães.
–Jorge Vollet: em Piracicaba, em 1888, como “proprietário de fábrica de linguiças”. Seria o mesmo Jorge Wollet que encontramos em Pirassununga em 1869 e em RCL em 1872, nomeado como fazendeiro de café e lavrador de algodão, filho de João Vollet e irmão de Bento Vollet?
–Martin Hülsdorff/Helsdorf/Hilsdorf: Pioneiro em Ibicaba em 1847, continua na colônia em 1850, arrolado com mulher e 6 crianças; mas já não está na lista de 1858. Versão tradicional da família diz que foi para Rio Claro, mas na verdade perdemos seus traços até que a pesquisa indicou que ele e sua família próxima (filhos casados e solteiros) moravam em… Piracicaba, desde meados dos anos 1850!
–Martinho Hilsdorf: teria nascido em Ibicaba, em 1850, sendo neto do Martinho Pioneiro acima e filho de João Hilsdorf e sua primeira mulher Anna ?, segundo relatos familiares, mas essa informação não me parece muito coerente e apresentei outras hipóteses na sua respectiva genealogia. Em 1878 se casa com a prima Sophia, filha de Konrad Hebling e da tia paterna Yzabel Hilsdorf Hebling, mas antes em 1873 já era citado como acionista em Piracicaba, subscrevendo “?ilegível ações da Cia. de Estrada de Ferro Ytuana”, para ampliação de ramais, segundo Relatório da Assembleia Geral de 9-3-1873.
–Konrad Hebling: Alemão de Biblis, no Hessen, Alemanha, o mesmo povoado de origem dos Hümmel. Mas diferentemente destes, esteve sempre em Piracicaba, tendo chegado em meados dos anos 1850. Casado com Yzabel Hilsdorf e genro de Martin Hilsdorf. Pais de 9 filhos, um deles Sophia, casada com o primo Martinho Hilsdorf. O ano de 1873 indica propriedade de uma olaria; aparece também como acionista, subscrevendo 5 ações da Cia. de Estrada de Ferro Ytuana, para ampliação de ramais, segundo Relatório da Assembleia Geral de março desse ano. Em 1893 documentado como morador do Bairro dos Alemães. O ano de 1925 é o de seu falecimento.
–Martinho Hilsdorf Hebling: em Piracicaba, em 1893, documentado como morador do Bairro dos Alemães. Pode ser o filho mais velho (1866-1948) de Konrad Hebling e Yzabel Hilsdorf, citados acima, casado com a prima Maria Hilsdorf Hebling (1868-1966), com quem constituiu família em Piracicaba, na qual se insere o professor e pesquisador Luis Totti.
–Valentim Hebling: em Piracicaba, localizado em 1873 e 1888. Em 1873, Martinho aparece como acionista na cidade, subscrevendo 5 ações da Cia. de Estrada de Ferro Ytuana, para ampliação de ramais, segundo Relatório da Assembleia Geral de 9-3-1873, já citado. Em 1888, é proprietário de armazém de secos e molhados. Seria o irmão de Konrad Hebling, vindo em 1855 e morador de Piracicaba com sua família, em detrimento do sobrinho também Valentim (1867-?), filho de Konrad e Yzabel Hebling.
–Martinho Hellmeister: em Piracicaba em? era proprietário de açougue no Bairro Alto/Bairro dos Alemães.
–Georg Gebhardt: veio em 1847 e era Pioneiro de Ibicaba, mas já não estava na colônia em 1858; provavelmente irmão da mulher de Adão Witzel, a quem acompanhou na saída antes de 1858 para RCL. Mas, há um George Gebhard que trabalhou na colônia “S. Lourenço”, de Piracicaba, entre 1859 e 1874, e as datas mostram que poderia ser a mesma pessoa.
Abaixo, imagens retiradas do site gomessilva2, que mostram prédios escolares, seus alunos e professores organizados pelos colonos alemães em Limeira, Santos, Friedeburg e Rio Claro (esta uma importante iniciativa ligada aos alemães de confissão luterana, não abordados nesta pesquisa).